sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sem lugar para se esconder: Edward Snowden, a NSA e a espionagem do governo americano.


Sem lugar para se esconder: Edward Snowden, a NSA e a espionagem do governo americano.

Autor: Glenn Greenwald

Editora: Primeira Pessoa.

Ano: 2014





Escrito pelo jornalista Glenn Greenwald, o livro conta a história de como ele se envolveu com Edward Snowden, ex-funcionário de empresas do ramo de tecnologia e segurança que prestava serviços a NSA. E como foi o seu auxilio jornalístico ao Snowden, no processo de denuncia referente a coleta e espionagem de dados sigilosos e privados dos cidadãos americanos e estrangeiros feita pelo governo estadunidense. As revelações são chocantes, tornando assim o livro muito interessante. Li as 288 páginas em apenas 4 dias.

Destaco aqui algumas questões que considerei relevantes durante a leitura do livro. A Agência de Segurança Nacional em inglês National Security Agency (NSA) existe desde 1952, como um órgão de inteligência de defesa nacional americana. Mas com o advento da internet e com a conjuntura de fatos ocorridos na sociedade americana, com destaque o atentado de 11 de setembro de 2001 que gerou uma onda muito forte de patriotismo e um objetivo nacional de caça ao terror. O órgão ganhou fundos e muita liberdade de ação com a justificativa de combater o terrorismo.


O fato é que a agência desenvolveu tecnologia e projetos que tem como objetivo coletar e armazenar tudo o que for possível da internet, informações como conversas de chats, fotos, vídeos, e-mails, metadados (ligações efetuadas e recebidas, hora, data, duração, destinatário etc.) dentre outras tecnologias capazes de acessar secretamente, câmeras de segurança, webcam, receber informações de qualquer microfone ou telefone celular.

Acredito que essas informações não surpreendam as pessoas, pois de alguma maneira dá para imaginar que as nossas informações possam ser interceptadas. Mas o grande reboliço que os documentos liberados pelo Snowden é causado pela revelação da dimensão desses projetos.

A primeira grande surpresa é saber quem são os alvos de espionagem, nada menos do que tudo e todos, cidadãos americanos e estrangeiros tem os seus dados armazenados, empresas, órgãos de outros países, instituições internacionais e tudo o que se conecta na rede. A grande questão é a legalidade de tudo isso, você não pode ter a sua privacidade violada sem uma ordem judicial, sem ser suspeito de algum crime ou estar ligado ao terrorismo.

Como o autor diz em seu texto algumas pessoas dirão apenas “eu não faço nada de errado, não tenho o que temer”. Mas devemos nos perguntar o que seria esse algo de errado. Um Estado que tem o poder de saber o que todos pensam “através de suas conversas pessoais” tem uma grande ferramenta em mãos para eliminar qualquer dissidência, qualquer um pode ser considerado um “cara mau” caso se oponha a esse sistema, como no livro diz, é fácil encontrar ambientalistas, defensores dos direitos humanos, ou membros de grupos que atuam para exercer algum tipo de mudança na sociedade que foram perseguidos e até tratados como terroristas. Este poder de vigilância pode ser devastador em uma tirania, em uma realidade de guerra onde a elite e os poderosos precisem eliminar qualquer tipo de dissidente. Este é o X da questão, Snownden sacrificou uma vida confortável e segura e enfrenta os riscos de ser preso e condenado a morte para que esta questão fosse denunciada colocada em debate.

Uma outra questão relevante é a espionagem econômica, como demonstrado em documentos que revelam que o Ministério de Minas e Energia do Brasil assim como a estatal Petrobrás foram espionadas com a finalidade de se obter vantagens econômicas aos americanos. A revelação deste caso causa um desconforto diplomático entre os países.

“ Os motivos para a espionagem econômica são bem claros. Quando os Estados Unidos usam a NSA para espionar as estratégias de planejamento de outros países durante discussões sobre comércio e economia, podem obter enorme vantagem para a indústria norte-americana. Em 2009, por exemplo, o secretário de Estado assistente omas Shannon escreveu a Keith Alexander para expressar sua “gratidão e [seus] parabéns pelo extraordinário apoio de inteligência de sinais” recebido pelo Departamento de Estado durante a Quinta Cúpula das Américas, conferência destinada à negociação de acordos econômicos”

A espionagem também é direcionada a membros do governo de outros países como no caso da presidenta Dilma Rousseff que teve até mesmo correspondências de e-mails violados. E da chanceler alemã Angela Merkel.

“ Ao descobrir que a NSA havia passado anos interceptando chamadas feitas com seu celular pessoal, a chanceler alemã Angela Merkel, em geral contida, falou com o presidente Obama e, irritada, comparou a vigilância dos Estados Unidos à Stasi, o célebre serviço de segurança da Alemanha Oriental, onde ela fora criada. Merkel não estava querendo dizer que os Estados Unidos fossem equivalentes ao regime comunista, mas sim que o cerne de um Estado de vigilância ameaçador – seja ele representado pela NSA, pela Stasi, pelo grande Irmão ou pelo Panopticon – é a percepção de que, a qualquer momento, pode-se estar sendo monitorado por autoridades invisíveis. ” 

Vale também destacar o conceito de Panopticon usado pelo filosofo britânico Jeremy Bentham e também pelo intelectual Michel de Foucault, para pensar os efeitos que essa vigilância pode causar na sociedade, por exemplo, a psicologia prova que as pessoas se comportam de maneira diferente quando sabem que estão sendo vistas, do que quando estão sozinhas. Os efeitos de vigilância podem inibir as pessoas a se expressarem e de terem opiniões dissidentes somente pelo fato delas terem a consciência que podem estar sendo observadas.


Em um documento liberado pelo Snowden podemos ver escrito “Basta juntar dinheiro, interesse nacional e ego, e aí, sim, se pode falar em moldar o mundo da maneira mais ampla possível. / Que país não quer transformar o mundo em um lugar melhor... para si mesmo? ”. Não tenho dúvidas desse poder de “moldar o mundo” que essas ferramentas possibilitam.

“Em última instância, além da manipulação diplomática e das vantagens econômicas, um sistema de espionagem onipresente permite aos Estados Unidos manter seu controle sobre o mundo. Quando o país consegue saber tudo o que todos estão fazendo, dizendo, pensando e planejando – seus próprios cidadãos, populações estrangeiras, corporações internacionais, líderes de outros governos –, seu poder sobre eles é maximizado. Isso é duplamente verdadeiro quando o governo opera em níveis de sigilo cada vez mais altos. O sigilo cria um espelho de apenas uma direção: o governo dos Estados Unidos vê tudo o que o resto do mundo faz, inclusive sua própria população, mas ninguém sabe de suas ações. ”


O livro traz diversos documentos que demonstram as maneiras de agir da agência, leitura fortemente recomendada. 

sábado, 2 de maio de 2015

A questão da Palestina

Estudar a questão da Palestina através da obra de Edward Said é buscar uma visão ampla e rica do assunto, o autor sai da interpretação ocidental onde o árabe é visto como um ser exótico e selvagem. Pois tem a vantagem de ter nascido na Palestina e de possuir uma vivência árabe. Conjuntamente com a sua experiência de imigrante nos Estados Unidos.

Para entender a questão do conflito na Palestina é preciso primeiro entender o sionismo, quando o jornalista e escritor austríaco Theodor Herzl concebeu o sionismo na década de 1890, tratava-se de um movimento para libertar os judeus e resolver o problema do antissemitismo. O ocidente sempre deu apoio a causa sionista, principalmente após a segunda guerra mundial, pois ser contra o sionismo no ocidente era assumir uma postura desconfortável a beira de um antissemitismo. A visão sobre os árabes era de um povo cheio de problemas, a alternativa do ocidente era saber o que aquele povo complicado iria querer.

Este apoio sempre esteve relacionado com a visão romancista que o ocidente construiu sobre o oriente e o desconhecimento do mesmo. O oriente médio é visto apenas como um espaço de conflitos, guerras e lutas intermináveis. Após a segunda guerra mundial, a questão do sionismo ganhou destaque e em 1948 o Estado de Israel na região da Palestina foi criado.

Said faz um levantamento de fontes onde estuda a genealogia do Sionismo desde o século XIX. Este estudo é muito importante pois demonstra a guerra semiótica que foi orquestrada pelos sionistas e a chamada comunhão de linguagem e ideologia entre o sionismo e o ocidente, onde estes buscaram uma dominação e ação colonialista no território da Palestina. O sionismo negou a existência do povo árabe e muçulmano que viviam na região. Com este estudo Said também expõe as falácias racistas propagadas pelos autores sionistas ao descreverem os árabes.

Os árabes que são superficialmente espertos e perspicazes adoram uma coisa e apenas ela: poder e sucesso. […] as autoridades britânicas cientes como são da natureza traiçoeira do árabe, tem de cuidar com atenção e constância para que nada aconteça que provoque nos árabes a menor mágoa ou motivo de queixa. […] quanto mais justo o regime inglês tenta ser, mais arrogante o árabe se torna.”1

A ideia central deste pensamento estava baseada na ideia de superioridade do europeu em relação ao mundo, nesta concepção os árabes são degenerados e traiçoeiros e os europeus possuem o ideal de honestidade, civilização e do progresso, nada que o oriental seja capaz de compreender. O sionismo se apropriou destes conceitos para legitimar as suas práticas coloniais. Ao perceber o árabe como um sujeito ineficiente, ou seja, incapaz de trabalhar a terra de uma maneira considerada eficiente, legitimando assim a expropriação de terra daquele povo.

O autor destaca a questão da representação do povo palestino pela mídia ocidental, estudando o principal jornal dos Estados Unidos. Nas reportagens e matérias do jornal The New York Times, os sionistas sempre tiveram grande participação e voz ativa. Os livros sobre Israel e também sobre a Palestina, eram comentados por jornalistas e escritores sionistas. Quando o jornal se referia ao tema, buscava a opinião de um representante sionista e de um “especialista” em assuntos do ocidente, este que muitas vezes também era um sionista. Um destes especialistas era Reinhold Niebuhr (jornalista norte-americano) que em seu artigo para o jornal assimila muito dos ideais descritos acima.

Sei que não há consideração suficiente na América pelos direitos árabes ou pela dificuldade da Inglaterra para lidar com o mundo árabe. Acho desconcertante, por outro lado, que o indivíduo comum fale de “opinião” árabe sem sugerir que essa opinião é limitada a um pequeno círculo de senhores feudais, que não existe classe média neste mundo e que as massas miseráveis estão numa condição tão vil de pobreza que uma opinião é um luxo impossível para elas. Uma das dificuldades do problema árabe é que a civilização técnica e dinâmica dos judeus poderiam ter ajudado a introduzir, que deveria ter tido o apoio do capital norte-americano e que deveria incluir o desenvolvimento de rios, a conservação do solo e o uso da força de trabalho nativa, não seria aceitável para os comandantes árabes, embora fosse benéfica às massas árabes. Ela teria de ser imposta provisoriamente, mas teria uma chance de aceitação cabal por parte das massas” 2

Neste texto Niebuhr retira o direito e a possibilidade do povo palestino de ter uma opinião sobre o seu destino e as suas vontades. E deixa nítido que a opinião árabe não importa. A estratégia sionista de conquistar a história, através da mídia e de obras artísticas. Para entender a relação do motivo dos grandes jornais e a mídia ocidental assumir um discurso sionista, deve se lembrar da relação entre o sionismo e o liberalismo, do grande lobby sionista presente em diversos seguimentos da sociedade norte-americana. Estão presentes como grandes acionistas, empresários anunciantes e até mesmo como donos de redes de mídias. Said traz o caso da expulsão de Israel da Unesco e a condenação do sionismo fomo forma de racismo pelas Nações Unidas. Onde a reação dos judeus foi a de encher as correspondências de parlamentares americanos com reclamações e dizendo que a medida foi uma forma de racismo.

Isto é responsável pela omissão da grande mídia ocidental em repercutir os relatórios e documentos produzidos pela ONU, Cruz Vermelha e outras instituições, onde o conteúdo faz menção das torturas, prisões arbitrárias e abusos aos direitos humanos. Um exemplo do tratamento diferenciado dado aos judeus sionistas é retratado pela história de Menachem Begin que era um terrorista declarado, que admite ser responsável pelo massacre de 250 mulheres e crianças na aldeia árabe de Deir Yassin, em abril de 1948. Quando este foi eleito foi considerado um estatista pelo ocidente, um líder democrático incapaz de praticar o mal. Said denuncia esta hipocrisia do ocidente ao citar o fato de que este sujeito foi condecorado com o título de doutor honoris causa em direito civil pela Northwestern University em 1978, universidade norte-americana. E para completar também recebeu uma parte do nobel da paz.

Em 1948 foi criado o Estado de Israel, fruto de promessas britânicas aliadas ao sionismo. Vale lembrar das promessas contraditórios de Balfur (secretário das relações exteriores britânico) em relação ao território palestino, em troca de apoio durante a segunda guerra fazia promessas de libertação aos árabes ao mesmo tempo que comprometia em oferecer o território sob domínio para os sionistas. Dispersão dos palestinos não foi um fato da natureza, mas resultado de uma força e de estratégias sionistas.

As ações sionistas não deram início somente após a criação do Estado em 1948, este fato foi resultado de uma ação estratégica de dominação. É importante citar a criação dos fundos de capitais sionistas como o Crédito Colonial Judaico Ltda (1898), Crédito Colonial (1901) e o Fundo Nacional Judeu. Estes fundos serviram para financiar as campanhas sionistas, a compra de terras e propriedades sistematicamente dos nativos. E assim dar início a etapa de tomada de território da região.

Com o final da segunda guerra a fundação do Estado e os conflitos armados que ocorreram no período, em 1948 o território da Palestina passou por um processo de êxodo e esvaziamento. “se quisermos entender por que 780 mil palestinos partiram em 1948, devemos olhar além dos acontecimentos imediatos de 1948: devemos ver o êxodo como um fato gerado por uma relativa falta de resposta política e organizacional dos palestinos à eficácia sionista e, além disso, uma propensão psicológica para o fracasso e o terror” Said, Edward. Pg 116)

Antes de 1948, a maior parte do território denominado Palestina era habitada, sem sombra de dúvida, por uma maioria de árabes, os quais, após o surgimento de Israel, foram dispersados (partiram ou foram obrigados a partir) ou cerceados no Estado como uma minoria não judaica. Após 1967, Israel ocupou mais território árabe palestino. O resultado foi que, atualmente, existem três tipos de árabes palestinos: os que vivem nos limites da Israel pré 1967, os que vivem nos territórios ocupados e os que vivem fora das fronteiras da antiga Palestina” (Said, Edward. Pg 53)

Nesta obra Said busca fazer uma “justiça histórica” para o povo da Palestina, em sua pesquisa confirma a presença do território e povo palestino na história, busca na literatura de viajantes relatos sobre como era a vida na região, do povo árabe que habitava a terra, dos seus modos de vida e produção. Relatos de viajantes do século XII até XIX e de geógrafos, historiadores, filósofos e poetas da língua árabe, estes que já falavam da Palestina desde o século VIII. Traz à tona registros de quando a região era chamada pelo seu nome árabe de Filisteia. Durante o século XVI Palestina se tornou província do império otomano.por centenas de anos existiu uma terra chamada Palestina um povo essencialmente pastoril e, no entretanto, social, cultural, política e economicamente identificável, cuja língua e religião eram (em grande parte) árabe e islâmica, respectivamente.” (Said, Edward. Pg 9)

Através do censo que talvez possa ser subestimado, mas o autor concorda que é confiável reafirma as proporções de superioridade numérica dos árabes e muçulmanos em relação aos judeus. Censo de 1914 relata 689.272 pessoas e apenas 60 mil judeus. 1922, 590.890 (78%) eram muçulmanos; 73.024 (9,6%) eram cristãos, majoritariamente árabes; 83.791 (11%) judeus. Crescimento judeu na área cresceu 28% em 1927 e 25% em 1934. Este aumento da proporção já demonstra o avanço da ação sionista na região.

Os judeus se organizaram e tiveram êxitos em seus objetivos, Avoda Ivrit é um dos métodos utilizados, o objetivo era o de alienar os nativos da força de trabalho. A orientação era para que a comunidade judia realizasse os seus próprios trabalhos, até mesmo os que exigiam esforços manuais.

Privações de direitos básicos do ser humanos, impedimento do direito de ir e vir, de moradia, prisões arbitrárias, assassinatos. Nos conflitos a ordem é que para cada 1 Israelense morto em combate 10 ou mais palestinos paguem com a vida. Sem a distinção entre soldados, civis, crianças e mulheres.

É contraditório que um povo que sofreu um processo de genocídio durante a segunda guerra mundial, em tão pouco tempo pratique o mesmo tipo de opressão em outro povo, um exemplo disso são as torturas onde são utilizadas gás, denunciadas nos relatórios e ignoradas pela mídia ocidental.
  
Há uma forte ligação entre Israel e os Estados Unidos, o sionismo é defendido fortemente nos EUA, Israel serve como uma barreira física e um braço de ação no Oriente médio, um muro que separa os árabes do mundo ocidental. O exército de Israel usa muitos equipamentos que se assemelha muito ao exército dos EUA.

O Estado de Israel trata os judeus e os não judeus de uma maneira bastante diferente, os não judeus são tratados pelo Estado como cidadãos de segunda categoria. Além das práticas já citadas de privações de direitos humanos, as regiões com predominância árabe não recebem nenhum tipo de investimentos em infraestrutura.

As leis que beneficiam os judeus em caso de imigração ao país, são as mesmas que barra e negam o direito de retorno dos palestinos. O Estado de Israel manteve uma lei do período de domínio britânico chamada Lei de Confisco de Propriedade em Tempos de Emergência de 1949. Esta lei é utilizada para negar o direito de propriedade dos palestinos e de dar ordens de demolição de suas residências. Esta mesma lei era denunciada nos tempos de domínio britânicos como antissemita. Lei de Propriedade Ausente, Lei de Aquisição de terras, Lei de Prescrição de 1958
O não judeu leva uma vida de privação nas vilas, sem bibliotecas, centros da juventude, teatros ou centros culturais; a maioria das vilas árabes, segundo o prefeito árabe de Nazaré, que fala com a autoridade única de um não judeu em Israel, carece de eletricidade, redes de esgoto, exceto Nazaré, que é servida apenas parcialmente; nenhuma vila possui estradas ou ruas. Enquanto o judeu tem direito ao máximo, ao não judeu é concedido o mínimo indispensável. De uma força de trabalho de 80 mil árabes, 60 mil trabalham em negócios administrados por judeus” (Said, Edward. Pg 121)


1 Carta datada de 1918 de Chaim Azriel Weizmann um intelectual sionista para Arthur James Balfour secretário britânico de assuntos exteriores.


Niebuhr “A New View of Palestine”, The Spectador, 6 ago. 1946, p.162

Bibliografia:

SAID, Edward. A questão palestina. São Paulo: Unesp, 2012.

Capitulo - A palestina e os palestinos. 
Capitulo - O sionismo e as atitudes do colonialismo europeu. 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Guerra fria e revoluções do terceiro mundo

No contexto do pós segunda guerra mundial (1945), nasce o período que iria ser conhecido como “guerra fria”. Este conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética perdurou até 1991, quando houve a fragmentação da União Soviética e a formação de países independentes, conjuntamente com a queda do muro de Berlim que dividia a Alemanha Ocidental – Capitalista sob influência dos Estados Unidos e Alemanha Oriental – Comunista sob influência da União Soviética.

Para entender o início deste conflito devemos observar como as duas nações se saíram após a segunda guerra mundial, o Estados Unidos durante o conflito foi capaz de orquestrar uma reorganização geopolítica mundial, tornando-se a principal potência em influência pós segunda guerra, alinhando a Europa e criando a “Comunidade Europeia” em 1957. O que viria a ser a União Europeia futuramente.


Hobsbawn enfatiza que a União Soviética apenas tinha influência politica nos territórios onde tinham soldados posicionados durante o período do pós-guerra. E na crença de Stalin que acreditava que o capitalismo ruiria por si  só, abandonando assim a ideia de uma internacional comunista.



No mapa acima podemos ver a projeção da influência geopolítica da União Soviética durante o período de 1949 – 1989 (tom vermelho-escuro). São países aliados que assinaram o pacto de Varsóvia (tratado de aliança militar). Com a crença na autodestruição do capitalismo Moscou então tomava uma atitude defensiva perante o mundo capitalista ocidental.

Neste contexto com duas grandes potências com regimes conflituosos a ideia de uma guerra direta entre as duas nações parecia inevitável, a não ser pelo fator da bomba atômica, demonstrada pelos Estados Unidos nos ataques as cidades de Nagasaki e Hiroshima e desenvolvida pela União Soviética em 1949. Pois com a nova realidade de armas nucleares, capazes de produzir genocídios e extermínio em massa, a possibilidade de uma guerra direta entre as duas nações era vista como um suicídio mutuo. Ambos os países usaram o fator de ameaça nuclear, porém sem intenção de cumpri-las. Porém o medo de uma destruição mutua foi constante durante os 40 anos da guerra fria, gerando muitos momentos de tensões.

Apesar de não ter havido um confronto direto, houve diversas guerras em que os dois lados forneceram subsídios armamentistas, fomentando assim conflitos em diversos lugares do mundo. As tensões resultaram em conflitos no Paquistão, Coreia do Norte, Vietnã e na ampla disseminação de armas no continente Africano, alimentando diversos conflitos.

A oposição entre os dois regimes resultou em tensões internas para ambos os lados, na União Soviética todos aqueles que tinham simpatia com o capitalismo foram eliminados, no Ocidente os partidos comunistas se viam cada vez mais perseguidos e extintos. Hobsbawn faz uma afirmação importante, para ele a guerra fria foi causada por Washington, pois o ambiente de ameaça comunista era um fator decisivo para arrecadar votos nas eleições – democráticas. A caça aos comunistas que se iniciaram com o presidente Truman (doutrina Truman) junto com o ideal macartista do senador McCarthy. O comunismo e a ameaça Soviética então foram aumentadas.

Isto possibilitou que diversas politicas públicas e de relações exteriores fossem tomadas pelos Estados Unidos, ajudando economias importantes do mundo, até mesmo da Alemanha e Japão a se reerguer para que o capitalismo pudesse se fortalecer. Em 1947 o plano Marshall era lançado com a intenção de recuperar a economia europeia. A criação da aliança militar OTAN para garantir que os países capitalistas tivessem uma defesa maior ao menor perigo comunista.

Esta ameaça também serviu como justificava para os Estados Unidos investirem boa parte do seu PIB na indústria bélica, para manter uma hegemonia militar e utilizar disso para exercer politica. A chamada “corrida armamentista” desenvolvidas pelos dois países tiveram consequências globais. O escoamento das armas produzidas fizeram aumentar o número de conflitos mundialmente.

A questão é que este cenário se tornara pesado para as economias, Hobsbawn destaca que as economias capitalistas foram capazes de absorver 3 trilhões de dívidas gastos em investimentos militares, porém não houve ninguém para absorver os gastos soviéticos nesta corrida armamentista. Uma vantagem que os Estados Unidos tiveram durante a guerra fria, foram os seus aliados, países que tinham economias fortes e prósperas, enquanto a União Soviética não tinham grandes aliados, lembrando que perderam o apoio da China comunista o que gerou grande tensão entre os dois países.

Na década de 80 a economia da União Soviética ia bem, porém não dominavam as novas tecnologias tão importantes para o mundo moderno de produção de Software e Silício. Apesar de possuir uma leve superioridade tecnológica, exemplo o lançamento de satélites

A guerra fria impactou diretamente nos países do terceiro, o exemplo da revolução cubana que passou a assumir ideais marxistas e um maior contato com a União Soviética,  em respostas a base americana instalada na Turquia, perto do seu território, também instalou  uma base em Cuba, capaz de lançar misseis. Gerando o maior momento de tensão da guerra fria, a chamada "crise dos misseis". 

No terceiro mundo Hobsbawn destaca o período de guerrilhas na América e África, com movimentos revolucionários que buscavam nessa tática derrubar governos, e que em muitas vezes esses movimentos se espelhavam no ideal revolucionário comunista.

Destaca a presença dos estudantes neste novo contexto de mobilizações. Repressão violenta de setores do estado ocidental, este ativismo de minoria apesar de não ser capaz de exercer uma revolução em países desenvolvidos.
Neste período conturbado, as antigas colônias viveram um processo de revoluções, ou tentativas de e golpes militares de contenção. 


Bibliografia: 

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 

Guerra Fria (cap 8), Terceiro Mundo e a Revolução (cap 15)

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Brasil, sociedade nacional-dependente - Bresser Pereira

Mapa Conceitual - Brasil, sociedade nacional-dependente. - Bresser Pereira 





Três ciclos políticos da sociedade e do Estado desde sua independência (1815-1822):



1 – Formação do Estado e da integração do território sob seu comando. Cobre período do império. (1822 – 1889) Ciclo Estado e Integração Territorial.

Integração nacional no século XIX era um problema sério.

Era dependente culturalmente da Europa, não foi capaz de promover revolução industrial no país. Não era contra o imperialismo.

“A elite não foi, portanto, capaz de construir o Estado enquanto nação, mas o construiu enquanto Estado e território unificado.”

Conclui que este ciclo foi bem-sucedido na formação do estado e unificação territorial.

1) Império – Ciclo Estado e Integração Territorial: “Os conservadores não estavam buscando manter a ordem através da conservação das tradições, nem os liberais estavam buscando a liberdade ainda que com algum risco da ordem pública. Os liberais defenderam a federalização, mas os conservadores afinal prevaleceram durante grande parte do Segundo Reinado porque, em uma época em que um governo centralizado era uma condição necessária para a integração territorial do país, defenderam o caráter unitário do Estado Brasileiro. Assim uma elite politica patrimonialista conservadora, que representava seus próprios interesses e os da classe proprietária de terras e da classe mercantil, contribuiu para a formação do Estado e para a integração territorial do país”

Partido Liberal - constituiu-se no ano de 1837, protegia os interesses dos indivíduos que formavam a classe média da sociedade urbana e comercial, a ambição dos bacharéis, os ideais políticos e sociais avançados das classes não comprometidas diretamente com a escravidão, e cuidava também do que era importante para os donos de terras.

Partido Conservador - pregava a conservação do poder político nas mãos dos grandes donos de escravos campestres. Não defendia o caráter revolucionário ou democrático do regime. No decorrer do segundo reinado, liberais e conservadores se revezaram no poder.

Formação da nação: “Ao contrário do que aconteceu na Inglaterra, França ou nos Estados Unidos – iniciou-se não pela sociedade, mas sim pelo aparelhamento do estado. A fuga de D. João VI (1808): Leis, práticas e burocracia. Esse aparelhamento que as elites do período usaram para criar o Estado-nação. Importância da figura do imperador.

Primeira república (1889 – 1930): Período de transição e onde o Ciclo Nação e Desenvolvimento começa no nível da sociedade. (Liberais – Liberalismo Oligárquico)

2 – Ciclo nação e desenvolvimento. (1930 – 1970): vai deste período e coincide com a revolução capitalista brasileira.

Autor diz que a sociedade antecipou o Estado, no nível da sociedade as ideias nacionalistas já estavam avançadas. (movimento tenentista)

Surge o (1) primeiro Pacto político voltado para o desenvolvimento: O Pacto Nacional Popular de 1930 (1930 – 1959): Pacto autoritário industrializado: Envolve a burguesia comprometida com a industrialização e também “popular” pois envolvia as classes populares. (Burguesia industrial nascente, burocracia pública moderna, classe trabalhadora urbana, intelectuais nacionalistas e de esquerda, e até mesmos setores da velha oligarquia: aqueles que não produziam para a exportação)

(modelo de país agrícola exportador se esgotava – Crise mundial de 1929 – Vargas rompe com os liberais – fim das grandes oligarquias – 1930 assume Getúlio Vargas)

Desencadeou a revolução industrial no Brasil. Industrialização comandada pelo Estado; assim como países que a realizaram atrasadamente; Japão, Alemanha, Áustria e os países escandinavos.

Manter controle da entrada de Capital e do câmbio.

Em 1945 (fim do Estado Novo) Golpe de estado: O governo do General Eurico Gaspar Dutra faz uma tentativa desastrosa de liberalização comercial, mas não obtêm sucesso e o governo volta atrás com a politica nacional desenvolvimentista de Vargas.
Juscelino Kubitschek ao assumir a presidência, desenvolve um projeto de industrialização acelerada. Porém gerou um desequilíbrio econômico, a revolução Cubana de 1959 provocou um aumento da radicalização politica (anticomunista) Alinhamento com os norte americanos, no contexto da guerra fria.

(2) Pacto Autoritário – Modernizante de 1964: Este pacto da continuidade a estratégia desenvolvimentista. Teve a mesma composição em termos de elite, mas excluía trabalhadores e intelectuais de esquerda.

Interesses estrangeiros que havia sido importante no momento do golpe, perde influência. Mas o regime militar não perde apoio dos países ricos (contexto guerra fria)

Apesar de haver uma preferência a indústria nacional, o país continuou aberto para aos investimentos de empresas multinacionais. Durante a guerra fria os Estados Unidos não estavam empenhados em determinar a forma de organização social e econômica dos países em desenvolvimento.

Burguesia Industrial, se envolveu na produção de bens de capital e o Estado no investimento em infraestrutura.

Enfrentou resistência de setores liberais e alienados de uma burguesia mercantil, profissionais financistas. Sempre ligados aos interesses estrangeiro.

O seu colapso foi pressionado pelas classes populares, visando a substituição ao desenvolvimento democrático.


3 – Ciclo democracia e justiça social. (1970 – 2000)

Tem como plano de fundo o golpe militar de 1964 e o “milagre econômico” no período do regime militar (crescimento até de 10% ao ano – Aumento da divida externa). Impressão de que o desenvolvimento estava assegurado. E que agora o caminho seria reduzir as desigualdades. Intelectuais de esquerda passaram a criticar este desenvolvimento “para cima”. Concentração da renda.

Crítica ao regime autoritário. Crise do regime em 1977 “pacote de abril” recebidas negativamente pela burguesia que deixou a dar apoio ao regime.

(3) Pacto Democrático – Popular de 1977: impulsionado pela crise econômica que começa nos anos 1980 (a grande crise da dívida externa e da alta inflação inercial). Alcança a democracia em 1984, após ampla mobilização popular (diretas já)

Entra em colapso em 1987.

importante para este ciclo democrático e justiça social. 1988 promulgação da constituição de 1988. (social, democrática e participativa)
surgimento dos SUS (sistema único de saúde)


(4) Pacto Liberal – dependente 1991: Hegemonia do neoliberalismo (queda do muro de Berlim). Adota reformas econômicas e as politicas macroeconômicas previstas pelo Consenso de Washington. Desgaste do nacionalismo devido ao regime militar, crise econômica o neoliberalismo vem como um caminho único, e neste momento há. Perda de ideia de nação.

A partir dos anos 2000 fica evidente o fracasso dessa politica neoliberal, com baixo crescimento, desindustrialização.

Se percebeu cada vez mais que era importante ter um Estado – Nação.

(5) Democrático – Popular de 2005?: A partir de 2000 foram eleitos lideres com projetos nacionais. Lula (2002): apoio a empresa nacional por via do BNDS. Aumento do salário-mínimo expansão do Bolsa Família. Politica distributiva criou mercado para a indústria nacional.


Cinco pactos políticos ou coalizões de classe:

Hipótese básica: as elites burguesas, politicas e intelectuais brasileiras são essencialmente ambíguas ou contraditórias em relação a questão nacional. Autor defende que é falsa a tese de que não há burguesia nacional. Igualmente errada a tese de que “a burguesia nacional brasileira seria tão nacionalista quanto a dos países ricos”

Nacionalista: “Será nacionalista se acreditar que o governo deve defender os interesses do trabalho, do conhecimento e dos capitais nacionais, e se entender que, para isso, deve ouvir seus concidadãos ao invés de aceitar sem críticas as políticas e reformas propostas pelos países ricos.

Teoria da dependência: Crítica da tese Nacional – Desenvolvimentista. Inspiração Marxista. Os países em desenvolvimento seriam intrinsecamente dependentes, suas classes dirigentes seriam necessariamente subordinadas às grandes potências imperiais ou ao Norte. Esta teoria crítica que uma burguesia nacional seria capaz de fazer uma revolução capitalista e levar o país ao desenvolvimento. (autor diz que a teoria está errada, lembra que entre 1930 – 1980 o país se desenvolveu)

Aceita as sugestões dos países desenvolvidos sem a critica necessária. (financiamentos e obtenção de créditos)

Nacional dependente (autor defende): durante a história passa por momentos mais nacionais e mais dependentes. Exemplos (1964 – e 1990) Diz: Quanto mais dependente e menos nacional forem as elites nacionais, mais o país estará próximo da semiestagnação. Quanto menos dependente e mais nacional maior será a probabilidade de um maior desenvolvimento.

Teoria da dependência associada: Segundo essa visão, a ausência de burguesia nacional não impedia o desenvolvimento econômico, que agora seria “assegurado” pelas empresas multinacionais. Se subordinaram ao norte. Ao invés de entenderem que a dependência tornava a burguesia nacional ambígua e contraditória. - ora nacional – ora dependente. Que era legitimo firmarem um pacto politico com ela.

Alienação da burguesia: Sofrem alienação cultural e politica em vários graus. Vontade de se reproduzir padrões de consumo de países ricos. Crença de que o Brasil precisa dos capitais de países ricos para se desenvolver. Enxerga a superioridade dos países desenvolvidos, não apenas no plano econômico e tecnológico, mas cultural e institucional. Muitos acreditam que é necessário a subordinação. O autor chama de alienado, pois a vontade dos países desenvolvidos não será a mesma dessa burguesia local.

* moda Belle Époque. Se perpetua. Admiração pelo estrangeiro, europeu.

A Belle Époque Brasileira, também conhecida como Belle Époque Tropical, foi um período artístico, cultural e político do Brasil, que começou em fins do Império e que se prolongaria até fins da República Velha (1889-1931). A Belle Époque, no Brasil, difere de outros países, seja pela duração do período, seja pelo avanço tecnológico, que se deu, principalmente, nas duas regiões mais prósperas do país na época: a região cafeeira (São Paulo) e a região do ciclo da borracha (Amazônia).

Dos intelectuais: Amplos setores de sua elite intelectual de esquerda, ressentida desde o golpe militar, recusava então qualquer aliança com empresários, a partir do pressuposto de que “seria impossível haver uma burguesia nacional em países dependentes” Ao aceitarem essa concepção inviabilizam até mesmo o conceito de nação: Só existe uma nação quando, apesar dos conflitos de classe, há uma solidariedade básica entre elas em relação à competição com outras nações.

Concepção do autor: No período de grande crescimento da economia brasileira, entre 1930 e 1980, os liberais e mais tarde os neoliberais (que no passado também eram significativamente chamados “livre-cambistas”) estiveram fora do poder politico.


Bibliografia:

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Brasil, sociedade nacional-dependente. Novos estud. - CEBRAP, São Paulo , n. 93, p. 101-121, July 2012. 

Cúpula de Santa Maria del Fiore

Argan analisa o principal trabalho de Filippo Brunelleschi a cúpula de Santa Maria del Fiore. Através do tratado de pintura de 1436 escrito por Alberti o autor busca o significado da obra de Brunelleschi.

Figura 1: Catedral de Santa Maria del Fiore é o "Duomo" de Florença, Itália
 Alberti distinguia entre dois modos de representação-ficção: “a pintura que representa através da projeção perspéctica de uma realidade em três dimensões no plano de duas dimensões; a escultura, que representa um objeto de três dimensões com outro objeto tridimensional. A cúpula é uma representação porque visualiza o espaço, que por certo é real ainda que não seja visível.”

Brunelleschi realizou uma extraordinária invenção ao construir a cúpula, ao olhar do observador torna-se um objeto unitário e não fragmentado, possuindo uma simetria entre sujeito e objeto. Um fator diferencial é justamente a estrutura da cúpula “é manifestamente uma estrutura não apenas portante, mas perspéctica ou representativa, cujas nervuras convergem para um ponto.” Ao se observar a cúpula no horizonte se observa a relação simétrica entre as colinas e a abóbada do céu. (figura 1)

A sua construção inovou em sua técnica, chamado de milagre técnico. Utilizando uma mecânica muito mais histórica. “É incontestável que, no momento de começar a construção da copula, tenha-se verificado a impossibilidade de construir armações de tamanha amplitude; mas o fato é que Brunelleschi não empenhou absolutamente seu engenho tecnológico na descoberta (ou redescoberta) do modo de fazer as armações, e sim no problema, sem dúvida mais complicado, de deixar de usá-las. Na verdade, Brunelleschi queria construir sem as armações não para dar mostras da sua habilidade, mas porque a construção com elas te-lôs-ia impedido de erguer sua estrutura “acima dos céus”, de fazer dela uma representação finita do espaço físico, de estabelecer a relação urbanística e, ao mesmo tempo, alegórica ou simbólica.” 

Figura 2: Cúpula de Brunelleschi em Florença 


Bibliografia:

ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte como História da Cidade. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 

Cap (O Significado da Cúpula)

Pinóquio às Avessas - Rubem Alves

O autor inicia a história questionando a moral que existe dentro de alguns tradicionais contos infantis. Dos três porquinhos onde o único porquinho que teve sucesso foi o mais utilitarista e prático. Da história do Pinóquio onde ele só poderia se transformar em uma pessoa de verdade através da escola e também da história da cigarra e da formiga, onde o músico e o artista eram desvalorizados. Assim o autor faz uma reflexão crítica sobre a moralidade destas histórias infantis.

A história nos mostra a curiosidade nata que a criança tem do mundo em que vive, faz muitas perguntas aos pais, sobre o nome das coisas, para que serve, quem definiu que as coisas sejam assim etc. Os pais das crianças se mostram preocupados em inserir o filho da lógica dos adultos, na lógica utilitarista. E assim as perguntas da criança vão sendo negligenciadas.

A princípio a criança se vê interessada pela escola, pois a maioria das perguntas que os pais não sabiam responder eles diziam que o filho aprenderia na escola, mas ao entrar na escola a criança percebe que o seu conhecimento anterior, o seu saber cotidiano não tem valor algum, a criança passa a ser avaliada por saberes impostos pelos professores, onde a criança não era instigada a ver sentido naquele conhecimento.

É interessante notar que o interesse suprimido da criança por pássaros, ocasiona nela frustrações e medos. O aluno entende que para “ser alguém na vida” deve aprender a seguir e decorar o conhecimento imposto, caso contrário decepcionaria os seus pais e não teria um futuro promissor. A criança passa a ter sonhos e pesadelos, onde a sua curiosidade vai morrendo e se transformando me medo aos poucos. Com o tempo a criança passa a entrar na lógica dos adultos e consegue ser bem sucedido neste mundo utilitarista, mas ao final de tudo não se sente feliz, não se torna uma pessoa realizada.

O autor faz uma crítica ao sistema de ensino que busca reproduzir valores, onde a finalidade da escola é a inserção no mercado de trabalho, e que o caminho deve ser feito através de boas notas com o fim de passar no vestibular. No final da história o autor faz uma comparação deste sistema a de um frigorifico, a escola como uma fábrica de reprodução em massa. 


Bibliografia:

ALVES, Rubem. Pinóquio às avessas: uma estória sobre crianças e escolas para pais e professores. Campinas, SP: Verus Editora, 2005

Carta de Paulo Freire aos professores

       Paulo Freire escreve o seu texto direcionado aos professores e aos futuros professores. Neste excelente artigo Freire buscará uma síntese de contrários, sem dicotomia.

            Ressalta a importância do ler, mas ler não significa decodificar palavras, ou apenas ler palavras. Freire defende a leitura do mundo, anterior a leitura da palavra, e após a leitura da palavra ler a leitura do mundo anteriormente feita.

            Este professor deve ter uma relação de soma com a aluno, ou seja, o saber anterior da criança, o seu senso comum a sua linguagem não deve ser excluída do processo educativo, a escola não pode agir de modo substituir os seus saberes da vida pelo conhecimento sistematizado, acumulado no decorrer da história. Não deve haver interiorização ou hierarquia dos saberes, estes devem ser somados. A curiosidade natural da criança deverá ser valorizada, as questões do seu meio social devem ser exploradas.

            Freire demonstra a sua proposta através de um curso de formação para professores que ministrou em Ilha de São Tomé, na África Ocidental. Na ocasião decidiu em trabalhar os conceitos de teóricos da educação da seguinte maneira: apresentava brevemente os conceitos das aulas de uma maneira leve. Após a breve apresentação o grupo de 25 alunos se preparavam e discutiam o material lido, sem nenhum tipo de interrupção por parte dos professores formadores. Após a sessão os erros e as interpretações de todos eram expostas coletivamente e discutidas.

            O ato de ensinar também é um ato de aprender, “Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto, é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso, sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria. ” Defende que ensinar não é um processo mecânico e de memorização. 

Bibliografia:

Identidade

Identidade

A identidade esta relacionada ao processo de construção do sujeito na sociedade. Para o antropólogo e educador Carlos R. Brandrão “a identidade explica o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu, de uma realidade individual que torna cada um de nós um sujeito único diante de outros eus; e é, ao mesmo tempo, o reconhecimento individual dessa exclusividade”. Uma outra abordagem desta questão está no trabalho do psicanalista Adré Green “o conceito de identidade agrupa várias ideias, como a noção de permanência, de manutenção de pontos de referência que não mudam com o passar do tempo, como o nome de uma pessoa, suas relações de parentesco, sua nacionalidade”

O reconhecimento da nossa identidade só se dará através da comparação, ou seja, através da presença do outro. A primeira diferenciação acontece nos primeiros momentos da vida, primeiramente na diferenciação da mãe, destacando a importância dessas primeiras relações. A partir deste momento a experiência ganhará uma importância maior, o que permitirá “modelos” a partir da observação de outras pessoas, que o sujeito se relaciona na experiência da sua vida.

A identidade como metamorfose

Ao investigar a concepção social da identidade o autor Antônio da Costa Ciampa nos demonstra uma característica importante da identidade, o carácter de metamorfose: A identidade está em constante mudança, porém a sua apresentação se dará em forma estática. As transformações são divididas em duas categorias, aquelas que são comum a todos, ou seja, o processo de amadurecimento, das transformações da idade, e aquelas que dependem de condições sociais e experiências de vidas, estudar, viajar, conhecer pessoas, trabalhar. A atividade constrói a identidade, a atividade “coisifica-se sob a forma de personagem”

Identidade em crise

Um momento clássico de crise de identidade ocorre comumente na adolescência, devido ao grande número de transformações ocorridas ao corpo e ao processo de formação do indivíduo. Um momento onde o jovem enfrenta medos, rompe paradigmas, desafios e tem um maior descobrimento de si mesmo. Apesar de a identidade ser uma metamorfose o indivíduo possui um fio histórico, ou seja, o antigo que está presente em sua identidade, mesmo que transformada.

Estigma

O estigma revela a dificuldade da sociedade em se lidar com o diferente. O estigma deixa marcas profundas nas pessoas que são estigmatizadas, vítimas de preconceito, pois essa situação a colocam em uma situação a margem da sociedade. Muitas vezes com grande dano a sua autoestima e confiança própria. O estigma assim influencia a sua identidade de uma maneira negativada. O estigma é a base fundamental do Bullying, situação que sabemos que podem gerar depressões e suicídios, afetando drasticamente a vida de pessoas.

As novas identidades


Uma característica do mundo globalizado é a ausência de fronteias econômicas e culturais, identidades são moldadas sob a influência gigantesca de diversas culturas em uma velocidade instantânea. Modos de se vestir, músicas são consumidos globalmente por pessoas de tradições variadas. A modernidade esta marcada por esse fato, essa velocidade gera um fator de transitoriedade de identidade. 

Bibliografia:


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Estigma - Erving Goffman

Mapa conceitual do conceito de estigma presente na obra de Erving Goffman

Origem do conceito: Estigma sinais corporais utilizados para evidenciar características morais aos seus portadores na antiguidade. Feitos com corte ou fogo, podiam caracterizar indivíduos considerados bandidos, escravos, traidores. Na época cristã os sinais das marcas de cristo foram vistos como uma benção. Hoje o conceito é utilizado como forma de caracterizar alguém que foge da “normalidade”.

Construção de normalidade: o estigma só é possível devido a uma construção social de normalidade. Esta construção é estabelecida na relação pessoal. Quando o estranho, ou seja, alguém que foge deste padrão de normalidade é caracterizado como alguém com estigma.

Identidade social virtual: baseada nas expectativas de que o indivíduo na sociedade deveria ser.

Identidade social real: baseado no que o indivíduo realmente prova ser, suas características de fato.

Estigma: Uma característica diferente da prevista. Uma especial relação entre o atributo (de fato) e o estereótipo. Onde o atributo ou o estereótipo não se encaixam em um grupo determinado como normalidade. O indivíduo passa ser um “desacreditado” perante a sociedade. Quando uma pessoa com estigma alcança uma legitimidade social, notoriedade, o seu estigma passa a ser a principal referência ao se lembrar da pessoa.

Três tipos de estigma: 1) deformidades físicas. 2) culpas de caráter individual, indivíduos percebidos com algum estigma moral. 3) estigmas de raça e de origem.

Estigma presente em nosso vocabulário: Onde deficiências e anormalidades entram como significação de nossa linguem. Metáforas presentes no discurso diário. Exemplo: “estamos cegos, mancos etc.”

Visão pessoal do estigmatizado: o estigmatizado tende a possuir a mesma visão e crenças de identidades que os “normais” possuem. Esta visão se relacionará com a sua concepção de que é um indivíduo estigmatizado. Pode perceber geralmente de maneira bastante correta que, não importa o que os outros admitam, eles na verdade não o aceitam e não estão dispostos a aceitar. E não o mantêm um contato entre iguais. A presença próxima de normais provavelmente reforçará a revisão entre auto exigências e ego, mas, na verdade, o auto ódio e a autodepreciação podem ocorrer quando somente ele e um espelho estão frente a frente. O indivíduo estigmatizado pode utilizar o seu estigma para “ganhos secundários” como desculpa pelo seu fracasso, e a sociedade também perceberá como tal exemplo (deficiente da perna cai, o motivo da queda é vista como razão de sua deficiência e não como uma queda comum que todos estão suscetíveis a ter)

O informado: o indivíduo considerado informado é aquele que teve uma experiência onde foi possível observar a discrepância entre a Identidade social virtual e a Identidade social real do estigmatizado. São indivíduos que tiveram relação onde puderam “quebrar” o estigma, observar a humanidade igualitária nos indivíduos que são estigmatizados. Muitas vezes são profissionais que trabalham diretamente com estigmatizados, ou pessoas que simplesmente viveram esta experiência.


Carreira moral: As pessoas que têm um estigma particular tendem a ter experiências semelhantes de aprendizagem relativa a sua condição e a sofrer mudanças semelhantes na concepção do eu – uma “carreira moral” semelhante, que é não só causa como efeito do compromisso com uma sequência semelhante de ajustamentos pessoais. Por exemplo, um órfão aprende que é natural e normal que as crianças tenham pais e aprende, ao mesmo tempo, o que significa não tê-los. 

Bibliografia:

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LCT, 1988

Os quatro pilares da educação - Jacques Delors

Aprender a Conhecer

O autor destaca a importância de aprender a conhecer, aprender a ter prazer em conhecer. Despertar na criança a curiosidade em aprender, possibilitando uma melhor relação com o seu meio, de compreender o real e ter um maior discernimento. Desde cedo ter acesso aos saberes acumulados e o saber científico. Reconhece a importância da formação cultural como abertura dos campos do conhecimento, a capacidade de aprender a aprender, exercitar a memória como uma maneira de conseguir dar atenção e aprofundar o conhecimento sobre algo, neste mundo cada vez mais cheio de informações instantâneas e efêmeras. E finalmente o exercício do pensamento, mediando as linhas do abstrato e do passageiro.

Aprender a Fazer

O aprender a fazer tem a sua importância no âmbito prática da vida futura do aluno. São as necessidades que o mundo do trabalho lhe cobra, o autor aponta para as mudanças ocorridas após revolução industrial, a mudança no tipo de trabalho exercido na modernidade, com ênfase não mais no trabalho manual e mecânico, mas sim no trabalho voltado ao uso de cognição. Destaca que aprender a fazer não pode estar mais relacionado apenas a tarefa de fabricar alguma coisa, mas sim em necessidades mais elaboradas, pois é preciso entender como equipamentos funcionam, e as suas constantes evoluções. O trabalho em grupo também deve estar presente neste saber.

Apender a viver juntos, aprender a viver com o outro


Para o autor este é um dos maiores desafios da educação, aprender a conviver com o outro, desenvolver principalmente com as crianças uma relação de aceitação do outro, de quem é diferente, uma ação de não violência. Lutar contra a discriminação e o preconceito, destaca a importância de se utilizar a história para ensinar sobre outras religiões e outros povos. Não basta apenas colocar pessoas de grupos diferentes para conviver juntos, mas sim juntamente com isso elaborar um trabalho que valorize o espirito de comunidade, de esforço comum, evitando um tipo de trabalho que valorize a competição. 

Aprender a ser

O aprender a ser visa a complementação dos outros saberes, para o desenvolvimento total do indivíduo. Desenvolver as suas principais funções que o colocarão como um indivíduo participante de uma comunidade. Desenvolver senso crítico ser capaz de colocar ideias em práticas e defender opiniões. O autor destaca o temor da desumanização do aluno, causado pelos novos tipos de relações no contexto de modernidade. Das evoluções midiáticas de alta de velocidade e instantâneas. O sistema educacional deve portanto favorecer uma base de referência para o aluno, auxiliando em seu desenvolvimento pleno, que o possibilite agir em todos os âmbitos da vida.

Considerações Pessoais

O autor faz propostas interessantes para a área educacional, levanta os principais paradigmas educacionais do presente, como direcionar um trabalho com alunos no mundo atual, onde os professores e as instituições disputam espaço e atenção com as novas tecnologias midiáticas. Destaca as principais capacidades que o aluno precisa adquirir para conseguir se tornar um ser humano atuante na sociedade moderna.

Bibliografia:

DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. UNESCO, 2010.

Capitulo 4 - Os quatro pilares da educação. 

Mundo Cola: Água, açúcar e marketing (The Cola Conquest)




Documentário lançado no Brasil com o título "Mundo-Cola: Água, açúcar e marketing" pela revista Super Interessante no ano de 1998. Este documentário esta completo e legendado em português do Brasil. 

Também conhecido como Mundo Cola uma trilogia ou The Cola Conquest