sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sem lugar para se esconder: Edward Snowden, a NSA e a espionagem do governo americano.


Sem lugar para se esconder: Edward Snowden, a NSA e a espionagem do governo americano.

Autor: Glenn Greenwald

Editora: Primeira Pessoa.

Ano: 2014





Escrito pelo jornalista Glenn Greenwald, o livro conta a história de como ele se envolveu com Edward Snowden, ex-funcionário de empresas do ramo de tecnologia e segurança que prestava serviços a NSA. E como foi o seu auxilio jornalístico ao Snowden, no processo de denuncia referente a coleta e espionagem de dados sigilosos e privados dos cidadãos americanos e estrangeiros feita pelo governo estadunidense. As revelações são chocantes, tornando assim o livro muito interessante. Li as 288 páginas em apenas 4 dias.

Destaco aqui algumas questões que considerei relevantes durante a leitura do livro. A Agência de Segurança Nacional em inglês National Security Agency (NSA) existe desde 1952, como um órgão de inteligência de defesa nacional americana. Mas com o advento da internet e com a conjuntura de fatos ocorridos na sociedade americana, com destaque o atentado de 11 de setembro de 2001 que gerou uma onda muito forte de patriotismo e um objetivo nacional de caça ao terror. O órgão ganhou fundos e muita liberdade de ação com a justificativa de combater o terrorismo.


O fato é que a agência desenvolveu tecnologia e projetos que tem como objetivo coletar e armazenar tudo o que for possível da internet, informações como conversas de chats, fotos, vídeos, e-mails, metadados (ligações efetuadas e recebidas, hora, data, duração, destinatário etc.) dentre outras tecnologias capazes de acessar secretamente, câmeras de segurança, webcam, receber informações de qualquer microfone ou telefone celular.

Acredito que essas informações não surpreendam as pessoas, pois de alguma maneira dá para imaginar que as nossas informações possam ser interceptadas. Mas o grande reboliço que os documentos liberados pelo Snowden é causado pela revelação da dimensão desses projetos.

A primeira grande surpresa é saber quem são os alvos de espionagem, nada menos do que tudo e todos, cidadãos americanos e estrangeiros tem os seus dados armazenados, empresas, órgãos de outros países, instituições internacionais e tudo o que se conecta na rede. A grande questão é a legalidade de tudo isso, você não pode ter a sua privacidade violada sem uma ordem judicial, sem ser suspeito de algum crime ou estar ligado ao terrorismo.

Como o autor diz em seu texto algumas pessoas dirão apenas “eu não faço nada de errado, não tenho o que temer”. Mas devemos nos perguntar o que seria esse algo de errado. Um Estado que tem o poder de saber o que todos pensam “através de suas conversas pessoais” tem uma grande ferramenta em mãos para eliminar qualquer dissidência, qualquer um pode ser considerado um “cara mau” caso se oponha a esse sistema, como no livro diz, é fácil encontrar ambientalistas, defensores dos direitos humanos, ou membros de grupos que atuam para exercer algum tipo de mudança na sociedade que foram perseguidos e até tratados como terroristas. Este poder de vigilância pode ser devastador em uma tirania, em uma realidade de guerra onde a elite e os poderosos precisem eliminar qualquer tipo de dissidente. Este é o X da questão, Snownden sacrificou uma vida confortável e segura e enfrenta os riscos de ser preso e condenado a morte para que esta questão fosse denunciada colocada em debate.

Uma outra questão relevante é a espionagem econômica, como demonstrado em documentos que revelam que o Ministério de Minas e Energia do Brasil assim como a estatal Petrobrás foram espionadas com a finalidade de se obter vantagens econômicas aos americanos. A revelação deste caso causa um desconforto diplomático entre os países.

“ Os motivos para a espionagem econômica são bem claros. Quando os Estados Unidos usam a NSA para espionar as estratégias de planejamento de outros países durante discussões sobre comércio e economia, podem obter enorme vantagem para a indústria norte-americana. Em 2009, por exemplo, o secretário de Estado assistente omas Shannon escreveu a Keith Alexander para expressar sua “gratidão e [seus] parabéns pelo extraordinário apoio de inteligência de sinais” recebido pelo Departamento de Estado durante a Quinta Cúpula das Américas, conferência destinada à negociação de acordos econômicos”

A espionagem também é direcionada a membros do governo de outros países como no caso da presidenta Dilma Rousseff que teve até mesmo correspondências de e-mails violados. E da chanceler alemã Angela Merkel.

“ Ao descobrir que a NSA havia passado anos interceptando chamadas feitas com seu celular pessoal, a chanceler alemã Angela Merkel, em geral contida, falou com o presidente Obama e, irritada, comparou a vigilância dos Estados Unidos à Stasi, o célebre serviço de segurança da Alemanha Oriental, onde ela fora criada. Merkel não estava querendo dizer que os Estados Unidos fossem equivalentes ao regime comunista, mas sim que o cerne de um Estado de vigilância ameaçador – seja ele representado pela NSA, pela Stasi, pelo grande Irmão ou pelo Panopticon – é a percepção de que, a qualquer momento, pode-se estar sendo monitorado por autoridades invisíveis. ” 

Vale também destacar o conceito de Panopticon usado pelo filosofo britânico Jeremy Bentham e também pelo intelectual Michel de Foucault, para pensar os efeitos que essa vigilância pode causar na sociedade, por exemplo, a psicologia prova que as pessoas se comportam de maneira diferente quando sabem que estão sendo vistas, do que quando estão sozinhas. Os efeitos de vigilância podem inibir as pessoas a se expressarem e de terem opiniões dissidentes somente pelo fato delas terem a consciência que podem estar sendo observadas.


Em um documento liberado pelo Snowden podemos ver escrito “Basta juntar dinheiro, interesse nacional e ego, e aí, sim, se pode falar em moldar o mundo da maneira mais ampla possível. / Que país não quer transformar o mundo em um lugar melhor... para si mesmo? ”. Não tenho dúvidas desse poder de “moldar o mundo” que essas ferramentas possibilitam.

“Em última instância, além da manipulação diplomática e das vantagens econômicas, um sistema de espionagem onipresente permite aos Estados Unidos manter seu controle sobre o mundo. Quando o país consegue saber tudo o que todos estão fazendo, dizendo, pensando e planejando – seus próprios cidadãos, populações estrangeiras, corporações internacionais, líderes de outros governos –, seu poder sobre eles é maximizado. Isso é duplamente verdadeiro quando o governo opera em níveis de sigilo cada vez mais altos. O sigilo cria um espelho de apenas uma direção: o governo dos Estados Unidos vê tudo o que o resto do mundo faz, inclusive sua própria população, mas ninguém sabe de suas ações. ”


O livro traz diversos documentos que demonstram as maneiras de agir da agência, leitura fortemente recomendada. 

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