segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A escravidão indígena no período colonial

Os indígenas foram escravizados do início da colonização até a reforma pombalina ocorrida no século XVIII.

Os indígenas eram essenciais para os planos de colonização da Coroa portuguesa, foram muitos importantes para a sobrevivência dos colonos, foi com os povos originários que os portugueses aprenderam sobre os animais, plantas, frutas que só existiam neste continente (tamanduá, cacau, guaraná, etc.) O trabalho indígena foi decisivo para o início da colonização, “a escravidão indígena desempenhou um papel de grande impacto não apenas sobre as populações nativas como também na constituição da sociedade e economia coloniais” 1 destinada principalmente no cultivo de cana de açúcar.

A legislação sobre a questão da escravidão se demonstrou ser ambígua, “redundando numa longa sucessão de leis e decretos que, apesar de reiterarem o princípio da liberdade indígena, também regulamentavam as condições nas quais os índios pudessem ser legítimos cativos”. 2 A condição para “o cativeiro só seria legítimo nos casos em que os índios fossem subjugados por intermédio de uma guerra justa, a qual teria de ser aprovada por uma Licença Régia ou pelo Governador”. 3 A Coroa também emitiu cartas régias autorizando guerras a índios inimigos como foi o caso dos Caetés em 1562, foram acusados de devorar o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, o processo de acusação deu-se seis anos após o fato, levando a crer que os motivos políticos eram suprir uma necessidade de mão de obra.  Sabe-se que as leis que impediam uma “escravidão injustas” não foram respeitadas, muitas expedições eram formadas pelos colonos para aprisionar os indígenas, eram expedições de apresamento, resgates, bandeiras e guerras justas. Missões de resgates seriam aquelas que salvariam os prisioneiros indígenas de tribos rivais, aqueles que seriam sacrificados em rituais antropofágicos.

Uma outra maneira onde o trabalho indígena foi utilizado eram nas missões jesuíticas, vilarejos organizados para a catequização dos indígenas, produção agrícola, e defesa militar – organização de milícias indígenas, responsáveis por proteger e ocupar o território da colônia. As missões foram de suma importância para a Coroa, desenvolveram a economia colonial, garantiram a defesa das fronteiras, os indígenas foram responsáveis por defender as ofensivas de outros colonizadores como os franceses e holandeses.  Ir para uma missão jesuítica era uma maneira de permanecer vivo e não ser escravizado pelos colonos, porem muitas missões sofreram ataques de bandeirantes em expedições de apresamento, havia, portanto, uma luta política entre os jesuítas e os colonos que queriam escravizar os indígenas – Jesuítas são conhecidos como defensores da liberdade indígena. A administração destas vilas dividiam-se entre os padres jesuítas e uma autoridade indígena, o trabalho indígena nas missões é vista pelos historiadores atuais como um processo de resistência, uma maneira encontrada de permanecerem existindo. Apesar da lealdade dos jesuítas com a Coroa, as missões foram extintas no Brasil após a reforma pombalina e a expulsão dos jesuítas do Brasil, foram motivadas também pela Guerra Guaranítica (1750 – 1756), guerra motivada pela necessidade de transferência de localidade das missões que ficaram na parte espanhola -localizadas no sul do Brasil, após a assinatura do tratado de Madri (1750), alguns indígenas consideraram uma traição dos padres jesuíticas e se recusaram a sair de suas terras, formaram um exército de aproximadamente 2500 homens, mas foram derrotados pelas tropas da coroa. 4

Redução Jesuítica


Ao estudar o processo de escravidão indígena na formação do Brasil verificamos que foi responsável pela grande diminuição demográfica destes povos, o processo foi cruel e genocida. As populações nativas foram atacadas e aprisionadas em massa, as condições de vida dos escravizados eram precárias e resultavam na morte em pouco tempo. “o padre João de Sousa Ferreira ilustrava bem a situação demográfica e sua relação com o cativeiro: "Metendo dez escravos em casa, daí a dez anos não havia um; mas fugindo um casal para o mato, achava-se daí a dez anos com dez filhos."5 As epidemias devastaram populações nativas inteiras, o sistema imunológico dos indígenas não tinham forte resistência trazida pelos portugueses.

Podemos citar alguns motivos da substituição da mão de obra indígena pelo escravo africano. O escravo indígena era mais ligado a terra e a sua cultura, tinha maior facilidade para organizar fugas – iriam até mesmo se juntarem aos quilombos, pois geralmente eram escravos da mesma etnia – diferentemente dos escravos africanos que eram retirados de sua terra e que tinham origens muito diversas, onde os proprietários tinham o cuidado de separa-los de todos os laços possíveis. O trabalho agrícola era associado ao trabalho feminino em diversas tribos. Os indígenas eram muito suscetíveis a doenças e epidemias, colaborando assim para uma grande redução populacional. 

Bibliografia

1 MONTEIRO, Jhon. O escravo índio, esse desconhecido. IN: Luís Donisete Benzi Grupioni (org.). Índios no Brasil. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1994, p. 105-120.
2 caput
GILENO, C. H. A legislação indígena: ambiguidades na formação do Estado-nação no Brasil. Cad. CRH [online]. 2007, vol.20, n.49, pp. 123-133.
4 Documentário Missões Jesuíticas – Guerreiros da fé. 2010. TV Senado. Brasil.
5 Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, 10 vols., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1938-50, vol. 7:295; Sousa Ferreira, "América Abreviada," p. 117


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