segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Questões Vestibular - A escravidão indígena

1) (PUC-RIO 2009) Sobre as características da sociedade escravista colonial da América portuguesa estão corretas as afirmações abaixo, À EXCEÇÃO de uma. Indique-a.

A)        O início do processo de colonização na América portuguesa foi marcado pela utilização dos índios – denominados “negros da terra” – como mão-de-obra.

B)        Na América portuguesa, ocorreu o predomínio da utilização da mão-de-obra escrava africana seja em áreas ligadas à agro-exportação, como o nordeste açucareiro a partir do final do século XVI, seja na região mineradora a partir do século XVIII.

C)        A partir do século XVI, com a introdução da mão-de-obra escrava africana, a escravidão indígena acabou por completo em todas as regiões da América portuguesa.

D)        Em algumas regiões da América portuguesa, os senhores permitiram que alguns de seus escravos pudessem realizar uma lavoura de subsistência dentro dos latifúndios agroexportadores, o que os historiadores denominam de “brecha camponesa”.

E)        Nas cidades coloniais da América portuguesa, escravos e escravas trabalharam vendendo mercadorias como doces, legumes e frutas, sendo conhecidos como “escravos de ganho”.






2) (UFSC 2011) A Anti-Slavery Internacional, organização não-governamental que atua no combate à escravidão no mundo contemporâneo, considerava que cerca de 25 milhões de pessoas eram vítimas do trabalho escravo em 2003. Dentre essas pessoas haveria trabalho infantil, exploração sexual e trabalhadores escravizados por dívida. Nesse mesmo ano, conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT), aproximadamente 25 mil pessoas estariam vivendo nessas condições no Brasil.

CATELLI JUNIOR, Roberto. História – Texto e Contexto. São Paulo: Editora Scipione, 2007. p. 268.


Sobre o tema escravidão, é CORRETO afirmar que:


1)         a partir de 1888, com a Lei Áurea, foram criadas condições especiais para que os libertos pudessem ingressar no mercado de trabalho, especialmente no meio rural com a distribuição de terra a ex-escravos.

2)         dada à tradição de liberdade, a população indígena no Brasil nunca pode ser submetida à escravidão, optando-se, então, pela compra de negros da África.

4)         no Brasil do século XXI ainda existem pessoas que vivem em condições de escravidão, tanto em grandes fazendas quanto no meio urbano.

8)         em função das políticas de inclusão adotadas no Brasil nos últimos anos, as diferenças salariais desapareceram quando comparados os salários entre brancos e negros.

16)       hoje, a escravidão existente se relaciona diretamente a preconceitos étnicos e de cor, não tendo nenhuma relação com as condições sociais e a distribuição de renda.

32)       conflitos entre as várias tribos no continente africano fizeram com que negros escravizassem outros negros, vendendo-os como mercadorias.


3) (UFPE) Um dos temas constantes na História do Brasil refere-se à escravidão. Muitas explicações são atribuídas ao fato de que a escravidão indígena foi sendo substituída pela africana. Assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

A) A principal razão pela qual a escravidão indígena foi sendo substituída pela africana deve-se ao fato de que o indígena era preguiçoso, preferia pescar e caçar a trabalhar forçado na agricultura.

B) O africano era uma raça mais adaptada ao trabalho agrícola, principalmente ao trabalho físico pesado. Na África, já estava habituado a esse tipo de atividade e, por essa razão, ele se adaptou melhor que os indígenas.

C) Os indígenas se rebelavam com mais frequência contra o trabalho escravo que lhes era imposto, porque sua religião tinha como um dos mandamentos fundamentais o exercício da liberdade.

D) A morte dos povos indígenas - em razão dos ataques dos brancos e do contágio de doenças - além da proteção da Igreja, que condenava a escravidão desses povos gerou a busca pela alternativa do trabalho escravo africano.

E) É completamente equivocada a afirmação de que o africano se adaptou melhor à escravidão do que o indígena; qualquer povo livre sempre reagirá a qualquer tentativa de transformá-lo em escravo.




4) (CESGRANRIO/RJ) No Brasil, o quilombo foi uma das formas de resistência da população escrava. Sobre os quilombos no Brasil, é correto afirmar que a(o):

A) existência de poucos quilombos na região norte pode ser explicada pela administração diferenciada, já que, no Estado do Grão-Pará e Maranhão, a Coroa Portuguesa havia proibido a escravidão negra;

B) quase inexistência de quilombos no sul do Brasil se relaciona à pequena porcentagem de negros na região, e que também permitiu que lá não ocorressem questões ligadas à segregação racial;

C) população dos quilombos também era formada por indígenas ameaçados pelos europeus, brancos pobres e outros aventureiros e desertores, embora predominassem africanos e seus descendentes;

D) maior dos quilombos brasileiros, Palmares, foi extinto a partir de um acordo entre Zumbi e o governador de Pernambuco, que se comprometeu a não punir os escravos que desejassem retornar às fazendas;

E) maior número de quilombos se concentrou na região nordeste do Brasil, em função da decadência da lavoura cafeeira, já que os fazendeiros, impossibilitados de sustentar os escravos, incentivavam-lhes a fuga.





5) e a transformação de índio em escravo exigiu ajustamentos por parte da camada senhorial, também pressupunha um processo de mudança por parte dos índios. Este processo desenrolou-se ao longo do século XVII, contribuindo para a evolução das bases precárias sobre as quais se assentava o regime de administração particular. Um dos elementos centrais deste processo foi a religião que, em certo sentido, servia de meio para se impor uma distância definitiva entre escravos índios e a sociedade primitiva da qual foram bruscamente separados".

MONTEIRO, John Manuel. "Negros da Terra:" Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo: São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p.159. Considerando o e-mail apresentado, assinale a alternativa correta.

A) A conversão religiosa do índio ao cristianismo era uma estratégia central para a desarticulação de seus laços culturais originais e sua inserção, como escravo, na sociedade colonial.

B) A conversão do índio ao cristianismo não visava ter um efeito qualquer sobre os comportamentos e hábitos culturais indígenas, servindo apenas como justificativa para a escravidão.

C) A camada senhorial de São Paulo não se alterou diante da herança cultural indígena, impondo aos índios, pela força das armas, sua cultura e sua religião.

D) A religião cristã dificultou a inserção do índio como escravo na sociedade colonial, pois os missionários jesuítas opuseram-se veementemente à escravidão indígena.



6) (UFJF/MG) "São pois os ditos índios aqueles que vivendo livres e sendo senhores naturais das suas Terras, foram arrancados delas com suma violência e tirania (...) até chegarem às terras de São Paulo onde os moradores serviam e servem deles como escravos." (Antônio Vieira – 1692)

"Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente. (...) Os de Cabo Verde e São Tomé são mais fracos. Os de Angola, criados em Luanda, são mais capazes de aprender ofícios mecânicos. (...)" (Antonil – 1711)

Podemos perceber, através dos trechos citados acima, que índios e negros participaram da construção da história brasileira a partir de diferentes circunstâncias, mas ambos, igualmente, foram vítimas de um forte processo de exclusão social. Com base nessa reflexão, assinale a alternativa incorreta:

A - No início da colonização, recorreu-se à escravização da mão-de-obra indígena, rompendo as relações amistosas dos primeiros contatos entre portugueses e nativos.

B - As epidemias e as mortes por trabalho forçado, ao causarem rápido decréscimo da população nativa, bem como as pressões jesuíticas contrárias à sua escravização, constituíram importantes obstáculos à transformação do índio em principal força de trabalho.

C - Embora exercessem funções mais especializadas, como a de ferreiros e carpinteiros, os escravos africanos eram fundamentalmente utilizados nas atividades agrícolas e mineradoras.

D - A expulsão dos índios de suas terras, sua escravização, bem como o seu aldeamento nas missões jesuíticas, contribuíram para a dissolução de seus padrões culturais.

E - O tráfico de escravos africanos era uma atividade da qual participavam somente elementos da Corte Portuguesa – burocratas e grandes proprietários – através do comércio triangular África – Lisboa – Brasil.




7) (FUVEST/SP) Durante o período colonial, o Estado português deu suporte legal a guerras contra povos indígenas do Brasil, sob diversas alegações; derivou daí a guerra justa, que fundamentou:

A - o genocídio dos povos indígenas, que era, no fundo, a verdadeira intenção da Igreja, do Estado e dos colonizadores;

B - a criação dos aldeamentos pelos jesuítas em toda a colônia, protegendo os indígenas dos portugueses;

C - o extermínio dos povos indígenas do sertão quando, no século XVII, a lavoura açucareira aí penetrou depois de ter ocupado todas as áreas litorâneas;

D - a escravização dos índios, pois, desde a antigüidade, reconhecia-se o direito de matar o prisioneiro de guerra, ou escravizá-lo;

E - uma espécie de "limpeza étnica", como se diz hoje em dia, para garantir o predomínio do homem branco na colônia.




8) (UFPR) Através da Bula Sublimis Deus, de dois de junho de 1537, o papa Paulo III declarou que os índios eram verdadeiros homens, portanto capazes de aceitar a fé cristã. A Bula proibia a escravização e a espoliação de qualquer índio, convertido ou pagão. No Brasil, apesar disso, os índios foram escravizados por meio de diversos artifícios legais. Sobre a questão indígena no Brasil é correto afirmar:

1 - A legislação colonial ibérica tendeu a proibir a escravização dos indígenas, excluídos aqueles que fossem capturados em “guerras justas”.

2 - Os bandeirantes realizaram numerosas expedições de apresamento de índios, sendo responsáveis pela destruição das missões jesuíticas espanholas, dentre as quais a da região do Guairá.

4 - Nas lavouras açucareiras do Nordeste, entre os séculos XVI e XVII, o uso da mão-de-obra indígena foi paulatinamente sendo substituído pela exploração do escravo africano.

8 - O Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I, para acabar com a influência dos jesuítas nas comunidades indígenas e no setor educacional, os expulsou de Portugal e de suas colônias.

16 - Os índios escravizados eram usados principalmente em tarefas domésticas.



Gabarito:







Role para baixo






Role para baixo









Role para baixo







Role para baixo





1 – C
2 – 4 e 32
3 – D
4 – C
5 – A
6 – E
7 – D
8 - 15








A escravidão indígena no período colonial

Os indígenas foram escravizados do início da colonização até a reforma pombalina ocorrida no século XVIII.

Os indígenas eram essenciais para os planos de colonização da Coroa portuguesa, foram muitos importantes para a sobrevivência dos colonos, foi com os povos originários que os portugueses aprenderam sobre os animais, plantas, frutas que só existiam neste continente (tamanduá, cacau, guaraná, etc.) O trabalho indígena foi decisivo para o início da colonização, “a escravidão indígena desempenhou um papel de grande impacto não apenas sobre as populações nativas como também na constituição da sociedade e economia coloniais” 1 destinada principalmente no cultivo de cana de açúcar.

A legislação sobre a questão da escravidão se demonstrou ser ambígua, “redundando numa longa sucessão de leis e decretos que, apesar de reiterarem o princípio da liberdade indígena, também regulamentavam as condições nas quais os índios pudessem ser legítimos cativos”. 2 A condição para “o cativeiro só seria legítimo nos casos em que os índios fossem subjugados por intermédio de uma guerra justa, a qual teria de ser aprovada por uma Licença Régia ou pelo Governador”. 3 A Coroa também emitiu cartas régias autorizando guerras a índios inimigos como foi o caso dos Caetés em 1562, foram acusados de devorar o bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, o processo de acusação deu-se seis anos após o fato, levando a crer que os motivos políticos eram suprir uma necessidade de mão de obra.  Sabe-se que as leis que impediam uma “escravidão injustas” não foram respeitadas, muitas expedições eram formadas pelos colonos para aprisionar os indígenas, eram expedições de apresamento, resgates, bandeiras e guerras justas. Missões de resgates seriam aquelas que salvariam os prisioneiros indígenas de tribos rivais, aqueles que seriam sacrificados em rituais antropofágicos.

Uma outra maneira onde o trabalho indígena foi utilizado eram nas missões jesuíticas, vilarejos organizados para a catequização dos indígenas, produção agrícola, e defesa militar – organização de milícias indígenas, responsáveis por proteger e ocupar o território da colônia. As missões foram de suma importância para a Coroa, desenvolveram a economia colonial, garantiram a defesa das fronteiras, os indígenas foram responsáveis por defender as ofensivas de outros colonizadores como os franceses e holandeses.  Ir para uma missão jesuítica era uma maneira de permanecer vivo e não ser escravizado pelos colonos, porem muitas missões sofreram ataques de bandeirantes em expedições de apresamento, havia, portanto, uma luta política entre os jesuítas e os colonos que queriam escravizar os indígenas – Jesuítas são conhecidos como defensores da liberdade indígena. A administração destas vilas dividiam-se entre os padres jesuítas e uma autoridade indígena, o trabalho indígena nas missões é vista pelos historiadores atuais como um processo de resistência, uma maneira encontrada de permanecerem existindo. Apesar da lealdade dos jesuítas com a Coroa, as missões foram extintas no Brasil após a reforma pombalina e a expulsão dos jesuítas do Brasil, foram motivadas também pela Guerra Guaranítica (1750 – 1756), guerra motivada pela necessidade de transferência de localidade das missões que ficaram na parte espanhola -localizadas no sul do Brasil, após a assinatura do tratado de Madri (1750), alguns indígenas consideraram uma traição dos padres jesuíticas e se recusaram a sair de suas terras, formaram um exército de aproximadamente 2500 homens, mas foram derrotados pelas tropas da coroa. 4

Redução Jesuítica


Ao estudar o processo de escravidão indígena na formação do Brasil verificamos que foi responsável pela grande diminuição demográfica destes povos, o processo foi cruel e genocida. As populações nativas foram atacadas e aprisionadas em massa, as condições de vida dos escravizados eram precárias e resultavam na morte em pouco tempo. “o padre João de Sousa Ferreira ilustrava bem a situação demográfica e sua relação com o cativeiro: "Metendo dez escravos em casa, daí a dez anos não havia um; mas fugindo um casal para o mato, achava-se daí a dez anos com dez filhos."5 As epidemias devastaram populações nativas inteiras, o sistema imunológico dos indígenas não tinham forte resistência trazida pelos portugueses.

Podemos citar alguns motivos da substituição da mão de obra indígena pelo escravo africano. O escravo indígena era mais ligado a terra e a sua cultura, tinha maior facilidade para organizar fugas – iriam até mesmo se juntarem aos quilombos, pois geralmente eram escravos da mesma etnia – diferentemente dos escravos africanos que eram retirados de sua terra e que tinham origens muito diversas, onde os proprietários tinham o cuidado de separa-los de todos os laços possíveis. O trabalho agrícola era associado ao trabalho feminino em diversas tribos. Os indígenas eram muito suscetíveis a doenças e epidemias, colaborando assim para uma grande redução populacional. 

Bibliografia

1 MONTEIRO, Jhon. O escravo índio, esse desconhecido. IN: Luís Donisete Benzi Grupioni (org.). Índios no Brasil. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1994, p. 105-120.
2 caput
GILENO, C. H. A legislação indígena: ambiguidades na formação do Estado-nação no Brasil. Cad. CRH [online]. 2007, vol.20, n.49, pp. 123-133.
4 Documentário Missões Jesuíticas – Guerreiros da fé. 2010. TV Senado. Brasil.
5 Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, 10 vols., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1938-50, vol. 7:295; Sousa Ferreira, "América Abreviada," p. 117