A Revolução Inglesa de 1640 -
Christopher Hill. 1983. Editora Lisboa
Autor do resumo: Rômulo de Souza Rodrigues - formado em História pela PUCSP
Escrevo aqui um resumo didático da obra
A Revolução Inglesa de 1640 do historiador Christopher Hill. Este resumo tem o
intuito de ajudar os estudantes e professores de História, contém passagens,
elementos chaves do texto e algumas ilustrações acrescentadas por mim.
FUNDO
ECÔNOMICO
Para começar esta História o autor
analisa o fundo econômico do período, antes da revolução, a Inglaterra existe
em uma economia feudal, e por
feudalismo o autor entende:
“Uma forma de sociedade na qual a
agricultura é a base da economia e o poder político constitui o monopólio de
uma classe de proprietários de terras. A massa da população consiste em uma
massa de camponeses dependentes que vivem do produto das terras arrendadas pela
família. Os proprietários da terra são sustentados pela renda paga pelos camponeses,
sob a forma de víveres ou de trabalho, nos primeiros tempos, ou (por volta do
século XVI) em dinheiro. Nessa sociedade existe igualmente a pequena produção
artesanal, a troca de produtos e o comércio interno e com o exterior; porém, o
comércio e a indústria estão subordinados aos proprietários de terras e ao seu
Estado, bem como a espoliação por parte deles. O capital mercantil pode desenvolver-se dentro do feudalismo sem
que o modo de produção seja alterado. A ameaça à velha classe dominante e ao
seu Estado surge apenas com o desenvolvimento
do modo de produção capitalista na agricultura e na indústria” pg 8
Imagem 1 - Feudalismo |
Devemos lembrar que o fundo
econômico da revolução é a transformação de uma sociedade feudal (nobreza) em
uma sociedade capitalista (burguesia), os processos ocorridos no século XVII
possibilitaram a revolução industrial.
Na
sociedade medieval a igreja tem um papel centralizador da vida, é comum dizer que a Igreja
ocupava o lugar do Estado hoje.
“A Igreja, durante toda a
idade média e até o século XVII, era algo de muito diferente daquilo a que
chamamos hoje Igreja. Guiava todos os movimentos do homem, do batismo ao
serviço fúnebre, e era o caminho de acesso a essa vida futura, em que todos os
homens acreditavam fervorosamente. A Igreja educava as crianças; nas paróquias
de aldeia – onde a massa da população era iletrada – o sermão do pároco era a
principal fonte de informação sobre os acontecimentos e problemas comuns e de
orientação da conduta econômica. A própria paróquia constituía uma importante
unidade de governo local, coletando e distribuindo as esmolas que os pobres
recebiam. A Igreja controlava os sentimentos dos homens e dizia-lhes o que
deviam acreditar, proporcionava-lhes distrações e espetáculos. Preenchia o
lugar das notícias e dos serviços de propaganda, agora coberto por instituições
muito diferentes e mais eficientes – a imprensa, a B.B.C., o cinema, o clube,
etc.” pg 20
Os valores medievais de
virtudes (espirituais), honra (guerreiros) e nobreza (títulos de nobreza), foram
se transformando em decorrência dos processos revolucionários – avanço do
capitalismo. Um exemplo marcante é encontrado na ambição (avareza) como um dos
pecados capitais, porém no mundo moderno a falta de ambição de um indivíduo é
considerada um defeito, o indivíduo considerado normal deve ter grandes sonhos
de consumo. No capitalismo o dinheiro é
o centralizador da vida.
“Os códigos éticos estão
sempre em estreita ligação com uma dada ordem social. A sociedade feudal fora
dominada pelo hábito, pela tradição. Comparativamente, o dinheiro não tinha importância. Constituía um ultraje a
moralidade dessa sociedade, o fato de as rendas sofrerem um aumento tão brusco,
e de os homens, por não poderem paga-las, serem lançados para as estradas,
mendigando, roubando ou morrendo de fome. Com o tempo, as necessidades do
capitalismo em expansão produziram uma nova moralidade – a moralidade de (Deus ajuda aqueles que se ajudam a si mesmo).
Mas no século XVI, a ideia de o lucro ser mais importante do que a vida humana
– que nos é tão familiar que perdemos todo o sentido de indignação moral – era
demasiado nova e chocante.
Imagem 2 - O dinheiro como centralizador da vida |
Imagem 3 - "Em São Paulo Deus é uma nota de 100" Racionais MCs (Vida Loka part II) |
Com a
economia se transformando devido a ascensão da classe mercantil (burguesia –
novos ricos - mercadores), as relações de mercado também se transformaram, a
coroa e a nobreza de títulos (proprietários de terras) não tinham o mesmo
sucesso neste mercado nascente. Juros, aumento dos preços, mudanças econômicas
foram o motor da revolução.
“O
foco desta sociedade era a Corte do Rei. O maior proprietário de terras deste
tipo era a própria Coroa, sempre com falta de capital. Os bispos eram também
proprietários notoriamente negligentes, sendo os seus domínios explorados, se é
que o eram, por arrendatários. Um contemporâneo observava que <nunca aumentam
nem costumam extorquir as rendas, como o fazem, até o último centavo, os nobres
e os gentil-homens, mas arrendam as suas terras, tal como há cem anos
atrás>. Os tempos eram difíceis para
estes parasitas e rentiers. A alta de
preços tornou impossível a manutenção do seu antigo nível de vida, e ainda
menos competirem no luxo com os príncipes do comércio. Estavam constantemente
endividados, muitas vezes para com algum esperto homem de negócio da cidade,
que exigia uma hipoteca sobre as duas propriedades e se apoderavam delas na
altura do vencimento. ” pg 36
O
desenvolvimento industrial era uma crescente, a monarquia se utilizou do monopólio como forma de
manter o seu domínio comercial, mas as suas tentativas não trouxeram bons
resultados.
“Este
novo desenvolvimento econômico deu origem a novos conflitos de classe. O
capital para o desenvolvimento industrial foi fornecido, direta ou
indiretamente, por mercadores, traficantes de escravos e piratas, cujas
fortunas tinham sido acumuladas no ultramar; e pelo setor da pequena nobreza
que fizera fortuna com a pilhagem dos mosteiros e a nova agricultura, além do
dinheiro proveniente das economias dos pequenos proprietários rurais e artesãos
.... Os monopólios – a venda a um indivíduo particular dos direitos exclusivos
de produção e/ou venda de uma determinada mercadoria (ou o direito exclusivo de
negociar num determinado mercado ultramarino) – eram o meio através do qual a
Coroa procurava submeter a indústria e o comércio ao seu controle, à escola
nacional, agora que as corporações das cidades tinham sido ludibriadas. “ pg 44
“Os
monopólios constituíam a forma de aplicação de taxas que menos correspondia aos
objetivos econômicos. Calculou-se que, enquanto 6 xelins para o erário
nacional, no caso dos monopólios um custo acrescido de 6 xelins exigido ao
consumidor apenas contribuía com 10 dinheiros. O restante ia para o grupo
privilegiado de parasitas da Corte, que não desempenhavam qualquer função
produtiva e constituíam um estorvo para o desenvolvimento integral das capacidades
produtivas do país. O monopólio de sabões dificultava gravemente a indústria de
lã. O monopólio do sal atingia a salga do peixe. Todas as industrias se
ressentiram de uma subida no preço do carvão, devido a aliança da coroa a um
círculo de exportadores. Os monopólios causaram uma alta acentuada de todos os
preços, que atingia com particular dureza os pobres. ” pg 71
A
expansão do capitalismo envolve a dissolução das antigas relações agrárias, nas
cidades inicia-se a formação do proletário, a formação de uma massa de
desempregados que será aproveitada para os empregos da indústria.
“Mas
um novo conflito viria a desenvolver-se, irremediavelmente, entre as duas
últimas classes, uma vez que a expansão do capitalismo envolvia a dissolução
das antigas relações agrárias e industriais e a transformação de pequenos patrões e camponeses independentes em
proletários” pg 51
A
partir do século XVI a monarquia inglesa decretou leis que privatizaram terras
que eram consideradas de uso comum, por exemplo, o bosque onde se podia caçar,
este processo ficou conhecido como leis
de cercamentos, camponeses foram expropriados. Este fato contribuiu para a
formação do proletário. Os cercamentos foram utilizados para aumentar a produção de lã, matéria prima utilizado
na fabricação de tecidos. Este fato é importante para entender a nova lógica
econômica. A economia feudal é basicamente uma economia de subsistência,
enquanto a economia capitalista tem a necessidade de se produzir para o
mercado, bens de consumo destinados a venda. Podemos lembrar da economia
brasileira com as suas grandes fases de produção de monocultura, exemplo, cana
de açúcar e o café.
As
leis de cercamentos (cercamento) inspiraram o autor Thomas More em seu livro
Utopia “Os vossos carneiros que se desejava fossem meigos e mansos, e que
comessem tão pouco, agora, segundo ouço dizer, tornaram-se tão devoradores e
selvagens que comem e engolem até os próprios homens” (EXERCICIO RELACIONAR O
CUSTO HUMANO E A IDEIA DE PROGESSO)
Artigo interessante:
Henrique
VIII, 1530: mendigos velhos e incapacitados para o trabalho recebem uma licença
para mendigar. Em contrapartida, açoitamento e encarceramento para os
vagabundos mais vigorosos. Estes devem ser amarrados a um carro e
açoitados até sangrarem; em seguida, devem prestar juramento de retornarem à
sua terra natal ou ao lugar onde tenham residido durante os últimos três anos e
de “se porem a trabalhar” (to put himself to labour). Que ironia cruel!
Na lei 27 Henrique VIII*, reitera-se o estatuto anterior, porém diversas
emendas o tornam mais severo. Em caso de uma segunda prisão por
vagabundagem, o indivíduo deverá ser novamente açoitado e ter a metade da
orelha cortada; na terceira reincidência, porém, o réu deve ser executado como
grave criminoso e inimigo da comunidade. / FONTE: http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/news/view/3333
FUNDO POLÍTICO
O
poder político inglês estava divido entre o Rei e o parlamento (o parlamento
inglês é uma herança da carta magna) durante o período estudado duas dinastias
governaram a Inglaterra, primeiro a dinastia Thudor e posteriormente a dinastia
Stuart (guerra das rosas – guerra pela disputa do trono). O parlamento inglês
era composto pela câmara do comuns dominada basicamente pela burguesia e a
câmara dos lordes composta pela nobreza.
A relação entre a monarquia e o parlamento era de tensão, contradições e
disputas pelo poder. Na economia se travava uma batalha feroz, a Coroa tentava
manter o domínio através de impostos, taxas e monopólios, mas a burguesia
ascendia cada vez mais, eram mais competentes nas relações de mercado e a Coroa
foi ocupando cada vez mais um papel parasitário.
“As
tentativas de Jaime e Carlos para restabelecerem o tesouro público suscitaram,
assim, muitos conflitos. Estabeleceram-se assim taxa sobre as importações sem o
consentimento do parlamento (impostos). Os monopólios tinham em vista desviar
os lucros industriais, tendo sido declarados ilegais pelo parlamento. O
<Projeto de Cockayne> para controle das exportações de tecido constituiu
uma tentativa de interferência do Estado nos processos de produção. O seu
malogro produziu uma grave crise econômica e provocou, em 1621, a primeira
denúncia em grande escala de toda a política econômica do governo e a abdicação
de Jaime I. Carlos, que sucedeu seu pai em 1625, utilizou empréstimos forçados,
apoiando-se nas prisões arbitrárias dos que se recusavam a pagar (O Caso dos
Cinco Cavaleiros).
Este
fato conduziu a uma ruptura declarada. Na petição de Direito, de 1628, o
parlamento declarou, que a fixação de taxas sem o seu consentimento e a prisão
arbitrárias eram igualmente ilegais; outras cláusulas procuraram impedir o Rei de
manter um exército permanente. Por que era essa, abertamente, a direção para
que o governo tendia. Carlos I aceitou a Petição de Direito compulsivamente,
mas entrou logo a seguir em conflito com os comuns sobre a sua interpretação.
Em Março de 1629, um súbito golpe dissolveu o parlamento, mas não antes de uma
cena violenta na Câmara dos Comuns, onde as resoluções eram aprovadas, a qual
tinham o objetivo de impossibilitar o rei de obter qualquer rendimento e de
lançar suspeitas sobre a sua política global, considerada <papista> e
segundo o interesse de potências estrangeiras. ” pg 67
Imagem 5 - retirada do site http://historiaemquadrinhosblog.blogspot.com.br/2013/07/absolutismo-na-inglaterra-versao.html |
A
pirataria contribuiu para o processo de acumulo de capital, que posteriormente
seria empregado na produção.
“Numa
época em que a pilhagem e a pirataria contribuíam para a rápida acumulação de
capital, os temerários lobos-do-mar dos condados semifeudais do sudeste – Devon
e Cornualha – amontoavam riquezas de tal maneira que se tornava impossível aos
comerciantes de Londres, mais prudentes, imitá-los. Pilhando as colônias e
navios espanhóis em busca de ouro, procurando terras na Irlanda e na América do
Norte, os aventureiros da classe decadente não entravam em conflito com os
elementos da classe em ascensão. Os que tinham sorte adquiriam o capital
necessário para participarem também da produção para o mercado: as linhas da
divisão entre classes ainda não tinham cristalizado. “ pg 55
Fatos
que ajudam a compreensão:
A derrota
da invencível armada (Espanha) contra a Inglaterra em 1588. Segue o artigo
extraído da Encyclopædia Britannica.
A
grande frota de navios de guerra chamada pelos espanhóis de Invencível Armada
foi formada na Espanha para atacar a Inglaterra em 1588. Sua derrota diminuiu o
poder da Espanha na Europa e também mudou a estratégia das batalhas marítimas.
O rei
Filipe II da Espanha lançou-se à guerra por vários motivos. Queria restaurar o catolicismo
na Inglaterra protestante, evitar que os ingleses apoiassem a rebelião nos Países
Baixos, então domínio da Espanha, e, finalmente, impedir que o capitão inglês
Francis Drake continuasse a saquear os navios espanhóis que transportavam
tesouros da América para a Espanha. Filipe II pretendia invadir a Inglaterra com
30 mil soldados, mas antes precisava derrotar a marinha de guerra inglesa.
A
Armada deixou a Espanha em maio de 1588, com 130 navios e 27 mil homens. Chegou
ao canal da Mancha no final de julho e travou algumas batalhas. Em 8 de agosto
os ingleses obtiveram uma vitória decisiva. Eles contavam com menos navios, mas
tinham canhões de maior alcance. Isso impedia que os espanhóis se aproximassem
para atacar as embarcações inglesas.
Sob
bombardeio inimigo e fustigada por grandes tempestades, a frota espanhola fugiu
para o norte, contornando a Escócia na tentativa de voltar à Espanha. Apenas
sessenta navios retornaram.
A derrota dos espanhóis salvou a
Inglaterra da invasão. Essa foi a primeira grande batalha marítima da história
do mundo decidida por canhões. Depois dela, e por centenas de anos, navios de
guerra armados com canhões dominaram os mares. / FONTE: http://escola.britannica.com.br/article/480660/Invencivel-Armada
Imagem 6 - A invencível armada.
“A derrota
da Armada espanhola em 1588 deu ao comércio ultramarino inglês a oportunidade
de se desenvolver livremente. Por outro lado, fez com que a burguesia inglesa
se tornasse mais consciente das restrições postas à sua expansão dentro do
próprio pais” pg 43
Vale
destacar dois partidos políticos citados no texto, os Tories e Whig segue a
definição deles extraída no dicionário político do site Marxists.
WHIG: Partido político de
Inglaterra, constituído nos anos 70-80 do século XVII. O partido dos whigs
exprimia os interesses dos meios financeiros e da burguesia mercantil, assim
como de uma parte da aristocracia aburguesada. Os whigs originaram o partido
liberal. Os whigs e os tories sucediam-se no poder.
Tories: Partido político da Inglaterra que surgiu em fins do século XVIII. Exprimia os interesses da aristocracia fundiária e do alto clero, defendia as tradições do passado feudal. Em meados do século XIX, na base do partido dos tories, foi criado o Partido Conservador. / FONTE: https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/tories.htm
|
QUESTÃO : (Por que a reforma religiosa na Inglaterra feita pelo rei
Henrique VIII, auxiliou o capitalismo nascente e agradou a nobreza e os
comerciantes?)
A REVOLUÇÃO.
Em
1642 depois de uma nova dissolução do parlamento e invasão do mesmo por Carlos
I, teve início a guerra civil, de um lado os defensores da monarquia e de outro
os representantes da burguesia. Neste momento aparece uma figura central para
entender a revolução, o nome dele é Oliver
Cromwell, líder da câmara dos comuns (representava o parlamento). Foi o
líder do exército revolucionário e defensor dos ideais liberais (meritocracia, democracia, tolerância religiosa),
adotou o método democrático em seu exército (conhecidos como os cabeças redondas, devido ao corte de
cabelo), garantindo assim maior disciplina. Vinculado a classe da burguesia,
era contra o absolutismo (centralização do poder) do rei Carlos I.
“Nas
suas forças dos condados situados a leste, a promoção tinha lugar pela via do
mérito, e não do nascimento: <Prefiro ter um capitão simples e rústico>,
disse <que saiba por que luta e ame
aquilo que sabe, do que um daquele a quem chamais “gentil-homem” e que não
passará disso. >. Insistia em que os seus homens tinham <as raízes da
questão> dentro deles, caso contrário, encorajava a livre discussão de
ideias divergentes. Cromwell teve de lutar contra alguns de seus oficiais
superiores que se recusavam a adotar o método democrático de recrutamento e
organização de que ele mostrara as vantagens. ” Pg 87
Em
1649 Oliver Cromwell venceu a guerra e o Rei Carlos I foi julgado e condenado a
morte (decapitação) com isso a Inglaterra se transformou em uma República
chamada Commonwealth e Cromwell passou a ter poderes ditatoriais proporcionado
pelo exército.
Abaixo
o autor lista os feitos de 11 anos do período de Cromwell:
“ 1 –
A conquista da Irlanda, com a expropriação dos proprietários de terras e dos
camponeses, - o primeiro grande triunfo do imperialismo inglês, e a primeira
grande derrota da democracia em Inglaterra. Pois a pequena burguesia do
exército, não obstante dos avisos de muitos chefes Leveller*, deixou-se desviar do estabelecimento das suas próprias
liberdades em Inglaterra e, iludida por inúmeros <slogans> religiosos,
destruiu as existentes na Irlanda. Muitos deles estabeleceram-se como
proprietários de terras neste país. (A revolta Leveller em 1649 tinha tido origem
na recusa de muitos soldados de partirem para a Irlanda, pois isso significava
violarem o compromisso tomado em 1647 de não se dividirem até que as liberdades
na Inglaterra estivessem asseguradas.)
2 – A
conquista da Escócia, necessária para impedir ali o restabelecimento da velha
ordem; a Escócia estava aberta aos comerciantes ingleses através da união
política.
3 –
Foi empreendida uma política comercial mais avançada com o Ato de Navegação de 1651, o qual se tornou a base da prosperidade
do século seguinte. Visava obter para os navios ingleses o comércio de
transportes da Europa, e excluir do comércio com as colônias ingleses todos os rivais.
Conduziu uma guerra com os holandeses, que tinham monopolizados o comércio de
transportes em todo o mundo na primeira metade do século XVII. Nesse período,
com efeito, a política real fizera com que se malograssem as tentativas da
burguesia para lançar todos os recursos da Inglaterra numa luta efetiva pela
obtenção deste comércio. A Inglaterra saiu vitoriosa desta guerra, graças da
frota de Blake e ao poder econômico que o governo republicano pode mobilizar.
4 –
Uma política imperialista requeria uma marinha poderosa, cujo desenvolvimento o
Rei Carlos não levaria a feito; sob Blake a Comunidade começou a dominar algum
proveito os mares, e a guerra contra a Espanha, em aliança com a França, trouxe
a Inglaterra a Jamaica e Dunquerque.
5 – A
abolição dos domínios feudais significava que os proprietários de terras
estabeleciam um direito absoluto às suas propriedades, em oposição ao rei; o
fracasso dos foreiros na obtenção de iguais condições para as suas fazendas
deixou-os a mercê dos donos das respectivas terras, preparando o caminho para
os cercados e as expropriações indiscriminadas durante os 150 anos que se
seguiram.
6 – Uma
restauração violenta da velha ordem no país foi impossibilitada pela demolição
de fortalezas, o desarmamento dos Cavaleiros e o fato de lhes serem cobradas
taxas que quase o arruinaram, de modo que muitos se viram forçados a vender os
seus domínios e a renunciar, consequentemente, ao prestígio social e ao poder
político. Para muitos dos proprietários de domínios economicamente pouco
desenvolvidos, desesperadamente endividados, o período da Comunidade, e
subsequente representava e execução de hipotecas, voltando o capital as suas
costas aos proprietários imprudentes.
7 – Por
fim para financiar as novas atividades dos governos revolucionários, foram
confiscadas e vendidas as terras da Igreja, da Coroa e de muitos dos principais
Realistas; os Realistas menos importantes, cujas propriedades tinham sido
confiscadas, foram autorizados a <negociar>, pagando uma multa correspondente
a uma proporção substancial dos seus domínios (foram por isso, frequentemente,
levados a vender particularmente uma parte das suas propriedades, a fim de
poderem ficar com o restante). “
O
exército de Cromwell teve um papel crucial, com novos ideais democráticos e meritocráticos,
“sabiam pelo que lutavam e amavam o que sabiam” Cromwell remodelou o exército
criando carreiras (New Model Army). A aristocracia teve que abrir mão do direito
tradicional de comandar forças armadas. Foram criados comitês para cuidar da
administração em substituição da burocracia monárquica.
“As
classes que pagavam as taxas começavam a ficar irritadas com a tática lenta e
dilatória dos aristocráticos chefes <Presbiterianos>, a qual aumentava os
custos da guerra. Tornava-se necessária uma reorganização democrática para
alcançar a vitória sobre os combatentes mais experimentados do lado realista.
Estas considerações fizeram com que prevalecessem as ideias de Cromwell, e
todos os membros do Parlamento foram obrigados pelo <Self Denying
Ordinance> (Decreto de Abnegação) a renunciar ao comando (abril de 1645).
Este fato atingiu principalmente os nobres; a renúncia ao seu direito
tradicional de comandar as forças armadas do país constituía só por si uma
revolução social secundária. Formou-se o Novo Exército Modelo, com a carreira
aberta aos talentos, organizado a nível nacional e financiado por uma nova taxa
nacional” pg 90
“Por
sua vez, isto conduziu a mudanças correspondentes no aparelho do Estado. A
destruição da burocracia real deixara um vazio que deveria ser preenchido por
funcionários da classe média. Porém, entretanto, a pressão das necessidades
revolucionárias levara à criação de uma séria de comités revolucionários nas
várias localidades. <Tivemos aqui uma coisa chamada Comitês>, escrevia um
descoroçoado gentil-homem da Ilha de Wight, <que dominava os
Vice-Governadores e também os Juízes de Paz, e nele tivemos homens corajosos:
Ringwood de Newport, o bufarinheiro; Maynard, o farmacêutico; Matthews, o
padeiro; Wavell e Legge, lavradores; e o pobre Baxter de Hurst Castle. Eles
governaram toda a Ilha e faziam o que quer que parecesse bom aos seus
olhos>. (Sir John Oglander talvez exagerasse a inferioridade social dos seus
inimigos: na totalidade do país, os comitês de condado eram chefiados pela
pequena nobreza e alta burguesia). Estes comitês estavam agora organizados e
centralizados e submetidos ao controlo geral dos grandes comitês do Parlamento,
que realmente conduziam a Guerra Civil – o comitê de ambos os reinos, o comitê
para o empréstimo de dinheiro, etc. O velho sistema estatal foi parcialmente
destruído e modificado; as novas instituições surgiam sob a pressão dos acontecimentos.
” pg 91
Levellers partido
com ideais liberais que representava a pequena burguesia exigiam sufrágio, fim
dos monopólios, separação do Estado e da igreja. O partido foi derrotado em seu
confronto com a alta burguesia. (Fuzilamento por Cromwell em Burford)
“Por
exemplo, ambas acolhiam favoravelmente os cercados e a utilização do trabalho
assalariado, na produção destinada ao mercado. Consequentemente, esta fração
desertou do movimento dos Levellers logo
que este deixou de ser simplesmente a ala mais revolucionária da burguesia e se
lançou ao ataque da grande burguesia. A fração que gradualmente baixava na
escala social tendia a ser irregular e derrotista, e a desanimar. O ideal dos levellers (leveller) era uma
utopia de pequenos produtores no domínio econômico e, na política, uma
democracia pequeno burguesa. Não obstante o foco que o exército constituía,
os Levellers nunca representavam uma classe suficientemente homogêneas para ser
capaz de atingir os seus objetivos. A total realização das tarefas
democráticas, mesmo no caso de uma revolução burguesa, não é possível sem uma
classe trabalhadora apta a leva-las a cabo. As realizações mais radicais da revolução burguesa inglesa (abolição da
monarquia, confiscação dos bens da Igreja, da Coroa e da aristocracia)
tiveram a sua efetivação através do que Engels considerou os <métodos
plebeus> dos Levellers e <Independentes>; mas não houve um movimento
organizado da classe trabalhadora, dotada de uma visão diferente da ordem
social e de uma teoria revolucionária científica, capaz de conduzir a pequena burguesia a um ataque frontal contra o
poder do grande capital” pg 98
SE
CARLOS I FOI DECAPITADO, POR QUE A MONARQUIA INGLESA FOI RESTAURADA? (REVOLUÇÃO
GLORIOSA 1688)
Acredito
que este seja um ponto chave na compreensão da revolução inglesa, entender o
motivo da monarquia ser restaurada, processo conhecido como revolução gloriosa
de 1688 (Gloriosa revolução). O governo de Oliver Cromwell se tornou ditatorial
e ficou muito restrito ao poder do exército que com o tempo se dissolveu, por outro lado a burguesia e os
proprietários de terras tinham medo de uma insurreição popular, podemos
observar este fato no surgimento dos Levellers e dos Diggers.
“O
ideal comunista de Winstanley foi em certo sentido um tanto retrógado, uma vez
que surgia da comunidade de aldeia que o capitalismo estava em vias de
desintegrar. Porém, os Diggers eram os opositores mais radicais e igualitários
da ordem social feudal. As afirmações claras e simples de Winstanley têm
ressonâncias contemporâneas: <É esta a ser-falar de liberdade, mas muitos
poucos atuam pela liberdade, e os que o fazem são oprimidos pelos que só falam
e professam a liberdade apenas nas palavras.> <Porque é demasiado
evidente que se nos permitirem falar despedaçaremos todas as velhas leis e
provaremos que os mantêm são hipócritas e traidores do povo inglês> E
Wintansley não olhava apenas para o passado, vislumbrava um futuro em que
<onde quer que haja um povo que a participação comum dos meios de
subsistência una na identidade, essa será a terra mais forte do mundo, porque
todos serão como um só homem na defesa da sua herança.> pg 101
A
monarquia foi restaurada com Carlos II, mas os seus poderes nunca mais foram os
mesmos. A revolução teve sua importância em possibilitar a ascensão do
capitalismo e futuramente a revolução industrial. A burguesia e o capital, com
a instituição do parlamento se tornaram a classe dominante. Este processo influenciou
outras revoluções liberais como por exemplo.
“Porém,
a Restauração não foi de modo nenhum uma restauração do antigo regime, tornando
evidente, não a fraqueza da burguesia e da pequena nobreza, mas a sua força. Os
funcionários da Administração, o tribunal, os financiadores do governo fizeram
poucas mudanças depois de 1660. Carlos II voltou, pretendendo que era rei por
direito hereditário divino desde que a cabeça do pai rolara no cadafalso, em
Whitehall. Contudo, não recuperou a posição do pai. Os tribunais de privilégios
não foram restabelecidos e Carlos II não tinha qualquer autoridade executiva
independente. O direito consuetudinário, tal como Sir Edward Coke o adaptou às
necessidades da sociedade capitalista, triunfou quer sobre a interferência
arbitrária da Coroa quer sobre as exigências reformadoras dos Levellers. Na
Revolução Inglesa, não houve racionalização do sistema legal com comparável ao
Código de Napoleão, produzido pela Revolução Francesa para a proteção da
pequena propriedade. Posteriormente a 1701, a subordinação dos juízes ao
Parlamento era um ponto da Constituição: a pequena nobreza dominava o governo
local na qualidade de Juízes de Paz. O rei não tinha poderes para cobrar
impostos independentemente do Parlamento (se bem que, por falta da previsão, o
Parlamento votase entusiasmado que os direitos alfandegários revertessem a
favor de Carlos II, e tal foi expansão do comércio durante o seu reinado, que
nos últimos anos deste o rei quase atingira a independência financeira. Este
ponto foi retificado depois de 1688). Pg 110
“O rei
já não podia <viver pelos seus próprios meios>, do rendimento privado
proveniente dos seus domínios e dos impostos feudais, e nunca mais voltaria a
ser independente. No século XVIII o rei mantinha a influência, mas via-se
privado de qualquer poder independente. Por outro lado, o fracasso do movimento
democrático em obter legalmente a proteção incondicional da propriedade para os
pequenos proprietários rurais, abrira o caminho à subida impiedosa das rendas,
à construção de cercados, aos despejos e à criação de um proletariado sem
terras próprias, sem que o Parlamento remediasse esta situação e verificando-se
o domínio do sistema judicial pelas classes proprietárias. No mundo dos
negócios, os monopólios e o controlo real da indústria e do comércio desaparecem
para sempre. As guildas e as leis relativas aos aprendizes tinham acabado, e
não foi feta qualquer tentativa concreta para as fazer reviver. O comércio e a
indústria, agora livres, expandiam-se rapidamente. Na Restauração, não se deu
qualquer ruptura na política comercial, imperial ou com o exterior. O Ato de
Navegação foi renovado pelo Governo de Carlos II e tornou-se a espinha dorsal
da política inglesa, o meio que permitia aos mercadores ingleses monopolizarem
as riquezas das colônias. As companhias mercantis exclusivas entraram em
decadência, exceto quando circunstâncias especiais tornavam a sua conservação
necessária à burguesia (a East India Company) Pg 113
“Do mesmo modo, a tecnologia beneficiava
extraordinariamente com a liberalização da ciência e o estímulo dado pela
Revolução ao livre pensamento e à experimentação. As revoluções experimentadas
pela técnica industrial e agrária, que no século XVIII viriam transformar a
face de Inglaterra, teriam sido impossíveis sem a revolução política do século
XVII. A liberdade de especulação intelectual na Inglaterra de finais do século
XVII e do século XVIII influenciou extraordinariamente as ideias da Revolução
Francesa de 1789.” Pg 114
Segue
agora um anexo da página 25 onde o autor publica um documento onde é possível identificar
os atores sociais da revolução. Pode ser útil em uma leitura de documento
histórico com alunos.
“Uma
grande parte dos cavaleiros e gentil homens de Inglaterra... aderira ao Rei...
E a maior parte dos arrendatários destes homens e também dos mais pobres do
povo, a quem os outros chamam a plebe, seguiram a pequena nobreza e eram pelo
Rei. Do lado do Parlamento estavam (além deles próprios) uma pequena parte
(segundo alguns pensavam) da pequena nobreza de muitos dos condados e a maior
parte dos comerciantes e proprietários e de classe média de homens, especialmente
nas corporações e condados dependentes do fabrico de tecidos e de manufaturas
desse tipo” / “Os proprietários e comerciantes são a força da religião e do
civismo no país; e os gentil homens, os pedintes e os arrendatários servis são
a força da iniquidade”
Aqui
alguns links com excelente material sobre a revolução:
OU
Um
excelente artigo com resumos e passagens de grandes obras sobre o tema, vale a
leitura pois expande o apresentado aqui.
Site
de onde foi retirado a imagem em quadrinho com o resumo.
Autor do resumo: Rômulo de Souza Rodrigues - formado em História pela PUCSP
Vídeo aulas gravadas sobre o assunto.
Vídeo aulas gravadas sobre o assunto.