sábado, 15 de outubro de 2016

Resumo - A Revolução Inglesa de 1640 - Christopher Hill. 1983

A Revolução Inglesa de 1640 - Christopher Hill. 1983.  Editora Lisboa

Autor do resumo: Rômulo de Souza Rodrigues - formado em História pela PUCSP

Escrevo aqui um resumo didático da obra A Revolução Inglesa de 1640 do historiador Christopher Hill. Este resumo tem o intuito de ajudar os estudantes e professores de História, contém passagens, elementos chaves do texto e algumas ilustrações acrescentadas por mim.

FUNDO ECÔNOMICO

Para começar esta História o autor analisa o fundo econômico do período, antes da revolução, a Inglaterra existe em uma economia feudal, e por feudalismo o autor entende:

“Uma forma de sociedade na qual a agricultura é a base da economia e o poder político constitui o monopólio de uma classe de proprietários de terras. A massa da população consiste em uma massa de camponeses dependentes que vivem do produto das terras arrendadas pela família. Os proprietários da terra são sustentados pela renda paga pelos camponeses, sob a forma de víveres ou de trabalho, nos primeiros tempos, ou (por volta do século XVI) em dinheiro. Nessa sociedade existe igualmente a pequena produção artesanal, a troca de produtos e o comércio interno e com o exterior; porém, o comércio e a indústria estão subordinados aos proprietários de terras e ao seu Estado, bem como a espoliação por parte deles. O capital mercantil pode desenvolver-se dentro do feudalismo sem que o modo de produção seja alterado. A ameaça à velha classe dominante e ao seu Estado surge apenas com o desenvolvimento do modo de produção capitalista na agricultura e na indústria” pg 8

Imagem 1 - Feudalismo
Devemos lembrar que o fundo econômico da revolução é a transformação de uma sociedade feudal (nobreza) em uma sociedade capitalista (burguesia), os processos ocorridos no século XVII possibilitaram a revolução industrial.

Na sociedade medieval a igreja tem um papel centralizador da vida, é comum dizer que a Igreja ocupava o lugar do Estado hoje.

“A Igreja, durante toda a idade média e até o século XVII, era algo de muito diferente daquilo a que chamamos hoje Igreja. Guiava todos os movimentos do homem, do batismo ao serviço fúnebre, e era o caminho de acesso a essa vida futura, em que todos os homens acreditavam fervorosamente. A Igreja educava as crianças; nas paróquias de aldeia – onde a massa da população era iletrada – o sermão do pároco era a principal fonte de informação sobre os acontecimentos e problemas comuns e de orientação da conduta econômica. A própria paróquia constituía uma importante unidade de governo local, coletando e distribuindo as esmolas que os pobres recebiam. A Igreja controlava os sentimentos dos homens e dizia-lhes o que deviam acreditar, proporcionava-lhes distrações e espetáculos. Preenchia o lugar das notícias e dos serviços de propaganda, agora coberto por instituições muito diferentes e mais eficientes – a imprensa, a B.B.C., o cinema, o clube, etc.” pg 20

Os valores medievais de virtudes (espirituais), honra (guerreiros) e nobreza (títulos de nobreza), foram se transformando em decorrência dos processos revolucionários – avanço do capitalismo. Um exemplo marcante é encontrado na ambição (avareza) como um dos pecados capitais, porém no mundo moderno a falta de ambição de um indivíduo é considerada um defeito, o indivíduo considerado normal deve ter grandes sonhos de consumo. No capitalismo o dinheiro é o centralizador da vida.

“Os códigos éticos estão sempre em estreita ligação com uma dada ordem social. A sociedade feudal fora dominada pelo hábito, pela tradição. Comparativamente, o dinheiro não tinha importância. Constituía um ultraje a moralidade dessa sociedade, o fato de as rendas sofrerem um aumento tão brusco, e de os homens, por não poderem paga-las, serem lançados para as estradas, mendigando, roubando ou morrendo de fome. Com o tempo, as necessidades do capitalismo em expansão produziram uma nova moralidade – a moralidade de (Deus ajuda aqueles que se ajudam a si mesmo). Mas no século XVI, a ideia de o lucro ser mais importante do que a vida humana – que nos é tão familiar que perdemos todo o sentido de indignação moral – era demasiado nova e chocante.

Imagem 2 - O dinheiro como centralizador da vida
Imagem 3 - "Em São Paulo Deus é uma nota de 100" Racionais MCs (Vida Loka part II)


Com a economia se transformando devido a ascensão da classe mercantil (burguesia – novos ricos - mercadores), as relações de mercado também se transformaram, a coroa e a nobreza de títulos (proprietários de terras) não tinham o mesmo sucesso neste mercado nascente. Juros, aumento dos preços, mudanças econômicas foram o motor da revolução.

“O foco desta sociedade era a Corte do Rei. O maior proprietário de terras deste tipo era a própria Coroa, sempre com falta de capital. Os bispos eram também proprietários notoriamente negligentes, sendo os seus domínios explorados, se é que o eram, por arrendatários. Um contemporâneo observava que <nunca aumentam nem costumam extorquir as rendas, como o fazem, até o último centavo, os nobres e os gentil-homens, mas arrendam as suas terras, tal como há cem anos atrás>.  Os tempos eram difíceis para estes parasitas e rentiers. A alta de preços tornou impossível a manutenção do seu antigo nível de vida, e ainda menos competirem no luxo com os príncipes do comércio. Estavam constantemente endividados, muitas vezes para com algum esperto homem de negócio da cidade, que exigia uma hipoteca sobre as duas propriedades e se apoderavam delas na altura do vencimento. ” pg 36

O desenvolvimento industrial era uma crescente, a monarquia se utilizou do monopólio como forma de manter o seu domínio comercial, mas as suas tentativas não trouxeram bons resultados.

“Este novo desenvolvimento econômico deu origem a novos conflitos de classe. O capital para o desenvolvimento industrial foi fornecido, direta ou indiretamente, por mercadores, traficantes de escravos e piratas, cujas fortunas tinham sido acumuladas no ultramar; e pelo setor da pequena nobreza que fizera fortuna com a pilhagem dos mosteiros e a nova agricultura, além do dinheiro proveniente das economias dos pequenos proprietários rurais e artesãos .... Os monopólios – a venda a um indivíduo particular dos direitos exclusivos de produção e/ou venda de uma determinada mercadoria (ou o direito exclusivo de negociar num determinado mercado ultramarino) – eram o meio através do qual a Coroa procurava submeter a indústria e o comércio ao seu controle, à escola nacional, agora que as corporações das cidades tinham sido ludibriadas. “ pg 44

“Os monopólios constituíam a forma de aplicação de taxas que menos correspondia aos objetivos econômicos. Calculou-se que, enquanto 6 xelins para o erário nacional, no caso dos monopólios um custo acrescido de 6 xelins exigido ao consumidor apenas contribuía com 10 dinheiros. O restante ia para o grupo privilegiado de parasitas da Corte, que não desempenhavam qualquer função produtiva e constituíam um estorvo para o desenvolvimento integral das capacidades produtivas do país. O monopólio de sabões dificultava gravemente a indústria de lã. O monopólio do sal atingia a salga do peixe. Todas as industrias se ressentiram de uma subida no preço do carvão, devido a aliança da coroa a um círculo de exportadores. Os monopólios causaram uma alta acentuada de todos os preços, que atingia com particular dureza os pobres. ” pg 71

A expansão do capitalismo envolve a dissolução das antigas relações agrárias, nas cidades inicia-se a formação do proletário, a formação de uma massa de desempregados que será aproveitada para os empregos da indústria.

“Mas um novo conflito viria a desenvolver-se, irremediavelmente, entre as duas últimas classes, uma vez que a expansão do capitalismo envolvia a dissolução das antigas relações agrárias e industriais e a transformação de pequenos patrões e camponeses independentes em proletários” pg 51

A partir do século XVI a monarquia inglesa decretou leis que privatizaram terras que eram consideradas de uso comum, por exemplo, o bosque onde se podia caçar, este processo ficou conhecido como leis de cercamentos, camponeses foram expropriados. Este fato contribuiu para a formação do proletário. Os cercamentos foram utilizados para aumentar a produção de lã, matéria prima utilizado na fabricação de tecidos. Este fato é importante para entender a nova lógica econômica. A economia feudal é basicamente uma economia de subsistência, enquanto a economia capitalista tem a necessidade de se produzir para o mercado, bens de consumo destinados a venda. Podemos lembrar da economia brasileira com as suas grandes fases de produção de monocultura, exemplo, cana de açúcar e o café.

As leis de cercamentos (cercamento) inspiraram o autor Thomas More em seu livro Utopia “Os vossos carneiros que se desejava fossem meigos e mansos, e que comessem tão pouco, agora, segundo ouço dizer, tornaram-se tão devoradores e selvagens que comem e engolem até os próprios homens” (EXERCICIO RELACIONAR O CUSTO HUMANO E A IDEIA DE PROGESSO)

Imagem 4 - Os carneiros devoraram os homens, ou melhor dizendo a nova lógica econômica devorou os homens.


Nesta realidade em transformação muitos camponeses sofreram as consequências das mudanças econômicas, expropriados e sem trabalho eram punidos com o rigor da lei, pelo crime de vagabundagem.

“Alguns destes pobres foreiros tornaram-se vagabundos, calcorreando as estradas, à procura de pão, e por isso criaram-se leis, ordenando que os vadios fossem marcados com um ferro em brasa ou (chicoteados até os ombros, dele ou dela sangrarem>. <Os pais da atual classe trabalhadora>, escreve Marx em O Capital, <foram castigados pela sua transformação forçadas em vagabundos e indigentes. A legislação tratava-os como criminosos, ‘voluntários’>. Outros tornaram-se trabalhadores agrícolas nas vastas propriedades. Outros ainda, constituíam uma útil oferta de mão-de-obra barata para a indústrias em expansão. Nenhum destes grupos possuíam terras que os mantivessem na independência num ano ruim, ou quando os patrões ficavam arruinados. ” Pg 39 

Artigo interessante:

Henrique VIII, 1530: mendigos velhos e incapacitados para o trabalho recebem uma licença para mendigar.  Em contrapartida, açoitamento e encarceramento para os vagabundos mais vigorosos.  Estes devem ser amarrados a um carro e açoitados até sangrarem; em seguida, devem prestar juramento de retornarem à sua terra natal ou ao lugar onde tenham residido durante os últimos três anos e de “se porem a trabalhar” (to put himself to labour).  Que ironia cruel!  Na lei 27 Henrique VIII*, reitera-se o estatuto anterior, porém diversas emendas o tornam mais severo.  Em caso de uma segunda prisão por vagabundagem, o indivíduo deverá ser novamente açoitado e ter a metade da orelha cortada; na terceira reincidência, porém, o réu deve ser executado como grave criminoso e inimigo da comunidade. / FONTE:  http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/news/view/3333


FUNDO POLÍTICO

O poder político inglês estava divido entre o Rei e o parlamento (o parlamento inglês é uma herança da carta magna) durante o período estudado duas dinastias governaram a Inglaterra, primeiro a dinastia Thudor e posteriormente a dinastia Stuart (guerra das rosas – guerra pela disputa do trono). O parlamento inglês era composto pela câmara do comuns dominada basicamente pela burguesia e a câmara dos lordes composta pela nobreza.  A relação entre a monarquia e o parlamento era de tensão, contradições e disputas pelo poder. Na economia se travava uma batalha feroz, a Coroa tentava manter o domínio através de impostos, taxas e monopólios, mas a burguesia ascendia cada vez mais, eram mais competentes nas relações de mercado e a Coroa foi ocupando cada vez mais um papel parasitário.

“As tentativas de Jaime e Carlos para restabelecerem o tesouro público suscitaram, assim, muitos conflitos. Estabeleceram-se assim taxa sobre as importações sem o consentimento do parlamento (impostos). Os monopólios tinham em vista desviar os lucros industriais, tendo sido declarados ilegais pelo parlamento. O <Projeto de Cockayne> para controle das exportações de tecido constituiu uma tentativa de interferência do Estado nos processos de produção. O seu malogro produziu uma grave crise econômica e provocou, em 1621, a primeira denúncia em grande escala de toda a política econômica do governo e a abdicação de Jaime I. Carlos, que sucedeu seu pai em 1625, utilizou empréstimos forçados, apoiando-se nas prisões arbitrárias dos que se recusavam a pagar (O Caso dos Cinco Cavaleiros).

Este fato conduziu a uma ruptura declarada. Na petição de Direito, de 1628, o parlamento declarou, que a fixação de taxas sem o seu consentimento e a prisão arbitrárias eram igualmente ilegais; outras cláusulas procuraram impedir o Rei de manter um exército permanente. Por que era essa, abertamente, a direção para que o governo tendia. Carlos I aceitou a Petição de Direito compulsivamente, mas entrou logo a seguir em conflito com os comuns sobre a sua interpretação. Em Março de 1629, um súbito golpe dissolveu o parlamento, mas não antes de uma cena violenta na Câmara dos Comuns, onde as resoluções eram aprovadas, a qual tinham o objetivo de impossibilitar o rei de obter qualquer rendimento e de lançar suspeitas sobre a sua política global, considerada <papista> e segundo o interesse de potências estrangeiras. ” pg 67

Imagem 5 - retirada do site http://historiaemquadrinhosblog.blogspot.com.br/2013/07/absolutismo-na-inglaterra-versao.html


A pirataria contribuiu para o processo de acumulo de capital, que posteriormente seria empregado na produção.

“Numa época em que a pilhagem e a pirataria contribuíam para a rápida acumulação de capital, os temerários lobos-do-mar dos condados semifeudais do sudeste – Devon e Cornualha – amontoavam riquezas de tal maneira que se tornava impossível aos comerciantes de Londres, mais prudentes, imitá-los. Pilhando as colônias e navios espanhóis em busca de ouro, procurando terras na Irlanda e na América do Norte, os aventureiros da classe decadente não entravam em conflito com os elementos da classe em ascensão. Os que tinham sorte adquiriam o capital necessário para participarem também da produção para o mercado: as linhas da divisão entre classes ainda não tinham cristalizado. “ pg 55

Fatos que ajudam a compreensão:

A derrota da invencível armada (Espanha) contra a Inglaterra em 1588. Segue o artigo extraído da Encyclopædia Britannica.

A grande frota de navios de guerra chamada pelos espanhóis de Invencível Armada foi formada na Espanha para atacar a Inglaterra em 1588. Sua derrota diminuiu o poder da Espanha na Europa e também mudou a estratégia das batalhas marítimas.

O rei Filipe II da Espanha lançou-se à guerra por vários motivos. Queria restaurar o catolicismo na Inglaterra protestante, evitar que os ingleses apoiassem a rebelião nos Países Baixos, então domínio da Espanha, e, finalmente, impedir que o capitão inglês Francis Drake continuasse a saquear os navios espanhóis que transportavam tesouros da América para a Espanha. Filipe II pretendia invadir a Inglaterra com 30 mil soldados, mas antes precisava derrotar a marinha de guerra inglesa.

A Armada deixou a Espanha em maio de 1588, com 130 navios e 27 mil homens. Chegou ao canal da Mancha no final de julho e travou algumas batalhas. Em 8 de agosto os ingleses obtiveram uma vitória decisiva. Eles contavam com menos navios, mas tinham canhões de maior alcance. Isso impedia que os espanhóis se aproximassem para atacar as embarcações inglesas.

Sob bombardeio inimigo e fustigada por grandes tempestades, a frota espanhola fugiu para o norte, contornando a Escócia na tentativa de voltar à Espanha. Apenas sessenta navios retornaram.

A derrota dos espanhóis salvou a Inglaterra da invasão. Essa foi a primeira grande batalha marítima da história do mundo decidida por canhões. Depois dela, e por centenas de anos, navios de guerra armados com canhões dominaram os mares. / FONTE: http://escola.britannica.com.br/article/480660/Invencivel-Armada

Imagem 6 -  A invencível armada.

“A derrota da Armada espanhola em 1588 deu ao comércio ultramarino inglês a oportunidade de se desenvolver livremente. Por outro lado, fez com que a burguesia inglesa se tornasse mais consciente das restrições postas à sua expansão dentro do próprio pais” pg 43

Vale destacar dois partidos políticos citados no texto, os Tories e Whig segue a definição deles extraída no dicionário político do site Marxists.

WHIG: Partido político de Inglaterra, constituído nos anos 70-80 do século XVII. O partido dos whigs exprimia os interesses dos meios financeiros e da burguesia mercantil, assim como de uma parte da aristocracia aburguesada. Os whigs originaram o partido liberal. Os whigs e os tories sucediam-se no poder.



Tories: Partido político da Inglaterra que surgiu em fins do século XVIII. Exprimia os interesses da aristocracia fundiária e do alto clero, defendia as tradições do passado feudal. Em meados do século XIX, na base do partido dos tories, foi criado o Partido Conservador. / FONTE: https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/tories.htm

QUESTÃO : (Por que a reforma religiosa na Inglaterra feita pelo rei Henrique VIII, auxiliou o capitalismo nascente e agradou a nobreza e os comerciantes?)

A REVOLUÇÃO.

Em 1642 depois de uma nova dissolução do parlamento e invasão do mesmo por Carlos I, teve início a guerra civil, de um lado os defensores da monarquia e de outro os representantes da burguesia. Neste momento aparece uma figura central para entender a revolução, o nome dele é Oliver Cromwell, líder da câmara dos comuns (representava o parlamento). Foi o líder do exército revolucionário e defensor dos ideais liberais (meritocracia, democracia, tolerância religiosa), adotou o método democrático em seu exército (conhecidos como os cabeças redondas, devido ao corte de cabelo), garantindo assim maior disciplina. Vinculado a classe da burguesia, era contra o absolutismo (centralização do poder) do rei Carlos I.

“Nas suas forças dos condados situados a leste, a promoção tinha lugar pela via do mérito, e não do nascimento: <Prefiro ter um capitão simples e rústico>, disse <que saiba por que luta e ame aquilo que sabe, do que um daquele a quem chamais “gentil-homem” e que não passará disso. >. Insistia em que os seus homens tinham <as raízes da questão> dentro deles, caso contrário, encorajava a livre discussão de ideias divergentes. Cromwell teve de lutar contra alguns de seus oficiais superiores que se recusavam a adotar o método democrático de recrutamento e organização de que ele mostrara as vantagens. ” Pg 87

Em 1649 Oliver Cromwell venceu a guerra e o Rei Carlos I foi julgado e condenado a morte (decapitação) com isso a Inglaterra se transformou em uma República chamada Commonwealth e Cromwell passou a ter poderes ditatoriais proporcionado pelo exército. 

Abaixo o autor lista os feitos de 11 anos do período de Cromwell:

“ 1 – A conquista da Irlanda, com a expropriação dos proprietários de terras e dos camponeses, - o primeiro grande triunfo do imperialismo inglês, e a primeira grande derrota da democracia em Inglaterra. Pois a pequena burguesia do exército, não obstante dos avisos de muitos chefes Leveller*, deixou-se desviar do estabelecimento das suas próprias liberdades em Inglaterra e, iludida por inúmeros <slogans> religiosos, destruiu as existentes na Irlanda. Muitos deles estabeleceram-se como proprietários de terras neste país. (A revolta Leveller em 1649 tinha tido origem na recusa de muitos soldados de partirem para a Irlanda, pois isso significava violarem o compromisso tomado em 1647 de não se dividirem até que as liberdades na Inglaterra estivessem asseguradas.)

2 – A conquista da Escócia, necessária para impedir ali o restabelecimento da velha ordem; a Escócia estava aberta aos comerciantes ingleses através da união política.

3 – Foi empreendida uma política comercial mais avançada com o Ato de Navegação de 1651, o qual se tornou a base da prosperidade do século seguinte. Visava obter para os navios ingleses o comércio de transportes da Europa, e excluir do comércio com as colônias ingleses todos os rivais. Conduziu uma guerra com os holandeses, que tinham monopolizados o comércio de transportes em todo o mundo na primeira metade do século XVII. Nesse período, com efeito, a política real fizera com que se malograssem as tentativas da burguesia para lançar todos os recursos da Inglaterra numa luta efetiva pela obtenção deste comércio. A Inglaterra saiu vitoriosa desta guerra, graças da frota de Blake e ao poder econômico que o governo republicano pode mobilizar.

4 – Uma política imperialista requeria uma marinha poderosa, cujo desenvolvimento o Rei Carlos não levaria a feito; sob Blake a Comunidade começou a dominar algum proveito os mares, e a guerra contra a Espanha, em aliança com a França, trouxe a Inglaterra a Jamaica e Dunquerque.

5 – A abolição dos domínios feudais significava que os proprietários de terras estabeleciam um direito absoluto às suas propriedades, em oposição ao rei; o fracasso dos foreiros na obtenção de iguais condições para as suas fazendas deixou-os a mercê dos donos das respectivas terras, preparando o caminho para os cercados e as expropriações indiscriminadas durante os 150 anos que se seguiram.

6 – Uma restauração violenta da velha ordem no país foi impossibilitada pela demolição de fortalezas, o desarmamento dos Cavaleiros e o fato de lhes serem cobradas taxas que quase o arruinaram, de modo que muitos se viram forçados a vender os seus domínios e a renunciar, consequentemente, ao prestígio social e ao poder político. Para muitos dos proprietários de domínios economicamente pouco desenvolvidos, desesperadamente endividados, o período da Comunidade, e subsequente representava e execução de hipotecas, voltando o capital as suas costas aos proprietários imprudentes.

7 – Por fim para financiar as novas atividades dos governos revolucionários, foram confiscadas e vendidas as terras da Igreja, da Coroa e de muitos dos principais Realistas; os Realistas menos importantes, cujas propriedades tinham sido confiscadas, foram autorizados a <negociar>, pagando uma multa correspondente a uma proporção substancial dos seus domínios (foram por isso, frequentemente, levados a vender particularmente uma parte das suas propriedades, a fim de poderem ficar com o restante). “
O exército de Cromwell teve um papel crucial, com novos ideais democráticos e meritocráticos, “sabiam pelo que lutavam e amavam o que sabiam” Cromwell remodelou o exército criando carreiras (New Model Army).  A aristocracia teve que abrir mão do direito tradicional de comandar forças armadas. Foram criados comitês para cuidar da administração em substituição da burocracia monárquica.

“As classes que pagavam as taxas começavam a ficar irritadas com a tática lenta e dilatória dos aristocráticos chefes <Presbiterianos>, a qual aumentava os custos da guerra. Tornava-se necessária uma reorganização democrática para alcançar a vitória sobre os combatentes mais experimentados do lado realista. Estas considerações fizeram com que prevalecessem as ideias de Cromwell, e todos os membros do Parlamento foram obrigados pelo <Self Denying Ordinance> (Decreto de Abnegação) a renunciar ao comando (abril de 1645). Este fato atingiu principalmente os nobres; a renúncia ao seu direito tradicional de comandar as forças armadas do país constituía só por si uma revolução social secundária. Formou-se o Novo Exército Modelo, com a carreira aberta aos talentos, organizado a nível nacional e financiado por uma nova taxa nacional” pg 90

“Por sua vez, isto conduziu a mudanças correspondentes no aparelho do Estado. A destruição da burocracia real deixara um vazio que deveria ser preenchido por funcionários da classe média. Porém, entretanto, a pressão das necessidades revolucionárias levara à criação de uma séria de comités revolucionários nas várias localidades. <Tivemos aqui uma coisa chamada Comitês>, escrevia um descoroçoado gentil-homem da Ilha de Wight, <que dominava os Vice-Governadores e também os Juízes de Paz, e nele tivemos homens corajosos: Ringwood de Newport, o bufarinheiro; Maynard, o farmacêutico; Matthews, o padeiro; Wavell e Legge, lavradores; e o pobre Baxter de Hurst Castle. Eles governaram toda a Ilha e faziam o que quer que parecesse bom aos seus olhos>. (Sir John Oglander talvez exagerasse a inferioridade social dos seus inimigos: na totalidade do país, os comitês de condado eram chefiados pela pequena nobreza e alta burguesia). Estes comitês estavam agora organizados e centralizados e submetidos ao controlo geral dos grandes comitês do Parlamento, que realmente conduziam a Guerra Civil – o comitê de ambos os reinos, o comitê para o empréstimo de dinheiro, etc. O velho sistema estatal foi parcialmente destruído e modificado; as novas instituições surgiam sob a pressão dos acontecimentos. ” pg 91

Levellers partido com ideais liberais que representava a pequena burguesia exigiam sufrágio, fim dos monopólios, separação do Estado e da igreja. O partido foi derrotado em seu confronto com a alta burguesia. (Fuzilamento por Cromwell em Burford)

“Por exemplo, ambas acolhiam favoravelmente os cercados e a utilização do trabalho assalariado, na produção destinada ao mercado. Consequentemente, esta fração desertou do movimento dos Levellers logo que este deixou de ser simplesmente a ala mais revolucionária da burguesia e se lançou ao ataque da grande burguesia. A fração que gradualmente baixava na escala social tendia a ser irregular e derrotista, e a desanimar. O ideal dos levellers (leveller) era uma utopia de pequenos produtores no domínio econômico e, na política, uma democracia pequeno burguesa. Não obstante o foco que o exército constituía, os Levellers nunca representavam uma classe suficientemente homogêneas para ser capaz de atingir os seus objetivos. A total realização das tarefas democráticas, mesmo no caso de uma revolução burguesa, não é possível sem uma classe trabalhadora apta a leva-las a cabo. As realizações mais radicais da revolução burguesa inglesa (abolição da monarquia, confiscação dos bens da Igreja, da Coroa e da aristocracia) tiveram a sua efetivação através do que Engels considerou os <métodos plebeus> dos Levellers e <Independentes>; mas não houve um movimento organizado da classe trabalhadora, dotada de uma visão diferente da ordem social e de uma teoria revolucionária científica, capaz de conduzir a pequena burguesia a um ataque frontal contra o poder do grande capital” pg 98

SE CARLOS I FOI DECAPITADO, POR QUE A MONARQUIA INGLESA FOI RESTAURADA? (REVOLUÇÃO GLORIOSA 1688)

Acredito que este seja um ponto chave na compreensão da revolução inglesa, entender o motivo da monarquia ser restaurada, processo conhecido como revolução gloriosa de 1688 (Gloriosa revolução). O governo de Oliver Cromwell se tornou ditatorial e ficou muito restrito ao poder do exército que com o tempo se dissolveu, por outro lado a burguesia e os proprietários de terras tinham medo de uma insurreição popular, podemos observar este fato no surgimento dos Levellers e dos Diggers.

“O ideal comunista de Winstanley foi em certo sentido um tanto retrógado, uma vez que surgia da comunidade de aldeia que o capitalismo estava em vias de desintegrar. Porém, os Diggers eram os opositores mais radicais e igualitários da ordem social feudal. As afirmações claras e simples de Winstanley têm ressonâncias contemporâneas: <É esta a ser-falar de liberdade, mas muitos poucos atuam pela liberdade, e os que o fazem são oprimidos pelos que só falam e professam a liberdade apenas nas palavras.> <Porque é demasiado evidente que se nos permitirem falar despedaçaremos todas as velhas leis e provaremos que os mantêm são hipócritas e traidores do povo inglês> E Wintansley não olhava apenas para o passado, vislumbrava um futuro em que <onde quer que haja um povo que a participação comum dos meios de subsistência una na identidade, essa será a terra mais forte do mundo, porque todos serão como um só homem na defesa da sua herança.> pg 101

A monarquia foi restaurada com Carlos II, mas os seus poderes nunca mais foram os mesmos. A revolução teve sua importância em possibilitar a ascensão do capitalismo e futuramente a revolução industrial. A burguesia e o capital, com a instituição do parlamento se tornaram a classe dominante. Este processo influenciou outras revoluções liberais como por exemplo.

“Porém, a Restauração não foi de modo nenhum uma restauração do antigo regime, tornando evidente, não a fraqueza da burguesia e da pequena nobreza, mas a sua força. Os funcionários da Administração, o tribunal, os financiadores do governo fizeram poucas mudanças depois de 1660. Carlos II voltou, pretendendo que era rei por direito hereditário divino desde que a cabeça do pai rolara no cadafalso, em Whitehall. Contudo, não recuperou a posição do pai. Os tribunais de privilégios não foram restabelecidos e Carlos II não tinha qualquer autoridade executiva independente. O direito consuetudinário, tal como Sir Edward Coke o adaptou às necessidades da sociedade capitalista, triunfou quer sobre a interferência arbitrária da Coroa quer sobre as exigências reformadoras dos Levellers. Na Revolução Inglesa, não houve racionalização do sistema legal com comparável ao Código de Napoleão, produzido pela Revolução Francesa para a proteção da pequena propriedade. Posteriormente a 1701, a subordinação dos juízes ao Parlamento era um ponto da Constituição: a pequena nobreza dominava o governo local na qualidade de Juízes de Paz. O rei não tinha poderes para cobrar impostos independentemente do Parlamento (se bem que, por falta da previsão, o Parlamento votase entusiasmado que os direitos alfandegários revertessem a favor de Carlos II, e tal foi expansão do comércio durante o seu reinado, que nos últimos anos deste o rei quase atingira a independência financeira. Este ponto foi retificado depois de 1688). Pg 110

“O rei já não podia <viver pelos seus próprios meios>, do rendimento privado proveniente dos seus domínios e dos impostos feudais, e nunca mais voltaria a ser independente. No século XVIII o rei mantinha a influência, mas via-se privado de qualquer poder independente. Por outro lado, o fracasso do movimento democrático em obter legalmente a proteção incondicional da propriedade para os pequenos proprietários rurais, abrira o caminho à subida impiedosa das rendas, à construção de cercados, aos despejos e à criação de um proletariado sem terras próprias, sem que o Parlamento remediasse esta situação e verificando-se o domínio do sistema judicial pelas classes proprietárias. No mundo dos negócios, os monopólios e o controlo real da indústria e do comércio desaparecem para sempre. As guildas e as leis relativas aos aprendizes tinham acabado, e não foi feta qualquer tentativa concreta para as fazer reviver. O comércio e a indústria, agora livres, expandiam-se rapidamente. Na Restauração, não se deu qualquer ruptura na política comercial, imperial ou com o exterior. O Ato de Navegação foi renovado pelo Governo de Carlos II e tornou-se a espinha dorsal da política inglesa, o meio que permitia aos mercadores ingleses monopolizarem as riquezas das colônias. As companhias mercantis exclusivas entraram em decadência, exceto quando circunstâncias especiais tornavam a sua conservação necessária à burguesia (a East India Company) Pg 113

 “Do mesmo modo, a tecnologia beneficiava extraordinariamente com a liberalização da ciência e o estímulo dado pela Revolução ao livre pensamento e à experimentação. As revoluções experimentadas pela técnica industrial e agrária, que no século XVIII viriam transformar a face de Inglaterra, teriam sido impossíveis sem a revolução política do século XVII. A liberdade de especulação intelectual na Inglaterra de finais do século XVII e do século XVIII influenciou extraordinariamente as ideias da Revolução Francesa de 1789.”  Pg 114

Segue agora um anexo da página 25 onde o autor publica um documento onde é possível identificar os atores sociais da revolução. Pode ser útil em uma leitura de documento histórico com alunos.

“Uma grande parte dos cavaleiros e gentil homens de Inglaterra... aderira ao Rei... E a maior parte dos arrendatários destes homens e também dos mais pobres do povo, a quem os outros chamam a plebe, seguiram a pequena nobreza e eram pelo Rei. Do lado do Parlamento estavam (além deles próprios) uma pequena parte (segundo alguns pensavam) da pequena nobreza de muitos dos condados e a maior parte dos comerciantes e proprietários e de classe média de homens, especialmente nas corporações e condados dependentes do fabrico de tecidos e de manufaturas desse tipo” / “Os proprietários e comerciantes são a força da religião e do civismo no país; e os gentil homens, os pedintes e os arrendatários servis são a força da iniquidade” 

Aqui alguns links com excelente material sobre a revolução:

OU


Um excelente artigo com resumos e passagens de grandes obras sobre o tema, vale a leitura pois expande o apresentado aqui.


Site de onde foi retirado a imagem em quadrinho com o resumo. 


Autor do resumo: Rômulo de Souza Rodrigues - formado em História pela PUCSP


Vídeo aulas gravadas sobre o assunto.